Como criar filhos racistas?

Passo um: não falar sobre raça. Nunca faça seu filho notar que outras
pessoas tem cor da pele diferente. Seja “cego à cor”.

Passo Dois: Na verdade, é isso. Não há passo dois.

Parabéns! Suas crianças estão bem em sua maneira de acreditar que sua
etnia é melhor do que todos os outros.

Surpreso? Assim, ficaram autores Po Bronson e Ashley Merryman quando começaram a pesquisar a questão das crianças e raça para o seu livro “NurtureShock”. Acontece que muitos dos nossos pressupostos sobre a criação de nossos filhos e a apreciação da diversidade é totalmente errado:

É tentador acreditar que por que a sua geração é tão diversa, as
crianças de hoje cresçam sabendo como conviver com pessoas de todas as raças. Mas vários estudos sugerem que isto é mais fantasia do que
fato.

Como é o Mês da História Negra, eu pensei que seria um bom momento para falar sobre raça, especialmente algumas das coisas surpreendentes que encontrei neste capítulo particular de “NurtureShock”. O que Bronson Merryman e descobriram, através de vários estudos, foi que a maioria dos pais brancos nunca conversam com seus filhos sobre raça.

A atitude (pelo menos aqueles que pensam que o racismo é errado) que
geralmente é porque queremos que os nossos filhos sejam indiferentes à cor, não apontamos a cor da pele. Dizeremos coisas como “todos são
iguais”, mas achamos difícil ser mais específico do que isso. Se nossa
criança aponta alguém que parece diferente, nós os mandamos calar e
lhes dizemos que é rude falar sobre isso. Pensamos que simplesmente
colocar nossos filhos em um ambiente diverso irá ensinar-lhes que a
diversidade é natural e boa.

E o que eles estão aprendendo? Aqui estão alguns fatos deprimentes:

  • Apenas 8% dos americanos brancos, cursando o segundo grau, tem um melhor amigo de outra raça. (Para os negros, é de cerca de 15%.)
  • Quanto mais diversificada uma escola é, menor a probabilidade de que as crianças vão formar amizades inter-raciais.
  • 75% dos pais brancos nunca ou quase nunca falam sobre a raça com seus filhos.
  • As atitudes de uma criança em relação à raça são muito mais difíceis de alterar, após a terceira série, mas um monte de pais esperam até lá (ou mais) antes de achar que é “seguro” para falar com franqueza sobre a raça.

Atualmente estamos muito confortáveis para falar com nossos filhos
sobre os estereótipos de gênero: nós dizemos a nossos filhos que as
mulheres podem ser médicos e advogados. Hei, a Barbie pode ser
engenheira de computação
! O que Bronson e Merryman apontam é que devemos dizer a mesma coisa sobre a raça: médicos podem ser de
qualquer cor de pele. Um (meio-)negro pode ser presidente. Negros
nerds podem ser muito legais
.

Então, em homenagem ao Mês da História Negra, fale com seus filhos
sobre a raça. Precisa de ajuda? O site Parenting recentemente postou 5 dicas para falar sobre racismo com crianças. Eu diria, porém, que “o mais importante” deve ser dizer algo, porque simplesmente “ser um modelo” não tem, aparentemente, o efeito que nós pensamos que ele tem.

Por Jonathan Liu

Fonte: http://www.wired.com/geekdad/2010/02/how-to-raise-racist-kids

Acriditi si quisé

Acriditi si quisé (Teimosia)

Eu vô li dizê u’a coisa
Acriditi si quisé
A viola bem tocada
Assust’até coroné
Faiz chuva caí pá cima
Faiz lião andá di ré
Faiz chuvê lá nu sertão
Faiz morto ficá di pé
Cantadô quando s’achega
Qui assume a função
Canta cum vontade forte
Qui faiz tremê coração
Faiz sangui corrê na veia
Na palma di sua mão
Tocadô qui bate fraco
Faiz o som saí errado
Baqueta é di madêra
Num é macarrão moiado
Num s’iscuta birimbau
Pareci qui tá dublado
Tocadô qui bati forte
Na batida compassada
U batuque sai tinindo
Faiz u povo dá risada
Bota jogadô nu rumo
Faiz a alma sê lavada
I us três bricano junto
Viola, tocadô, cantadô
É qui perpara u chão
Pá recebê jogadô
Qui faiz u seu miserê
Lá no meio da roda, sim sinhô

Camaradinho…

É di bamba, é di bamba, é di bamba ê
Lê-lê, viola é bamba
É di bamba, é di bamba, é di bamba ê
Lê-lê, cantadô é bamba
É di bamba, é di bamba, é di bamba ê
Lê-lê, tocadô é bamba

Quando eu era pequenino

Quando eu era pequenino
Lá no fundo do quintal
Minha mãe me dava angu
Meus irmãos comiam mingau
Minha mãe tinha sete filhos
Eu era o derradeiro
Quando a farinha era pouca
Eu gritava “meu pirão primeiro”

Farinha pouca, meu pirão primeiro…

O poder negro da capoeira

Por D. David Dreis (tradução: Teimosia)
Publicado na revista Black Belt no início dos anos 70
A nação brasileira está dando uma longa e dura olhada no seu passado xadrez. Algumas das coisas que ela vê, precisam ser lavadas e esfregadas, de maneira que façam boas leituras em livros de história. Rebeliões escravas à base de derramamento de sangue, são parte de seu folclore. E o Brasil está finalmente aceitando a capoeira como o verdadeiro poder negro da nação.
Por muitos anos, o Brasil tem posto à margem a sua herança com a capoeira. Ela tem sido negligenciada, desconsiderada e negada. Historiadores lutam contra a censura burocrática para encontrar clareiras, buracos na história que tiveram que ser preenchidos. Alguns anos atrás, um português de 81 anos, testemunha ocular dos buracos na história, contou uma estória: a estória era sobre capoeira.
Vicente Ferreira Pastinha foi o homem que fez o preenchimento. O que ele falou em extensão foi sobre as rebeliões escravas contra a crueldade da perseguição e a ferramenta de auto-defesa empregada pelos escravos, criada pelos negros.
Agora que o Brasil está dando essa olhada relutante, ele está aprendendo sobre a capoeira, e estremecendo com o que aprendeu. Descrições apropriadamente feitas pelo velho homem atestam sobre os braços e pernas se movendo rapidamente, batalhando contra a investida de senhores de escravos impiedosos, lutando contra a grande organização da opressão apenas para serem esmagados em derrota sangrenta. A capoeira teve seus resultados mais aterrorizantes nos levantes escravos contra os saqueadores da dignidade human, os donos de terra que estiveram em operação desde a colonização do Brasil pelos portugueses. Com cada supressão vieram mais e mais restrições, até que em fim, cansados e espancados, os africanos insurgentes, os escravos, foram derrotados. Como a população branca escreveu os livros de história, eles apagaram as marcas negras da capoeira, fingindo que elas nunca existiram. Pastinha permaneceu vivo e trouxe a realidade do passado para o foco.
Mantida viva no segredo de almas endurecidas, a arte marcial continuou a ser ensinada e aprendida, e se movimentos eram exibidos, dizia-se que eram uma inocente dança nativa. Esse foi o modo da capoeira sobreviver à tortura do tempo.
Pastinha revelou como os aspectos culturais da arte pareceram desaparecer e como praticantes desesperados usaram a arte para quebrar os estatutos que foram colocados em seus caminhos. Que eles usaram a capoeira para a destruição e o dano, sem rima ou razão, é também parte da história desfigurada. Sem a cultura e a herança, assim como é muito ensinado no mundo das artes marciais, nada sobra a não ser a destruição e a demolição. De novo e de novo, negros insurgentes foram mortos em confrontos sangrentos. A herança da capoeira pareceu desaparecer para sempre.
Hoje, aos 81 anos de idade e cego, sem posses exceto pela renda que lhe foi assegurada por discípulos devotados da arte, Pastinha é cuidado por alunos que o olham com o mesmo respeito e dedicação que praticantes do karate e judo japoneses olham seus senseis. Ele vive em Salvador, Brasil, e ainda pratica a arte marcial, apesar de que os anos e o despeito cobraram taxas na sua destreza.
Mas assim como Pastinha revelou o passado, um instrutor de 68 anos conhecido apenas como “Mestre Bimba” está avançando para o futuro com sua instrução da arte marcial. Desde que ele começou a ensinar capoeira, muitos praticantes passaram por suas mãos e estão avançando a arte ainda mais.
Cinco anos atrás, um grupo liderado por Benjamin Muniz começou a fazer um estudo verdadeiro e esquemático do “kata” da capoeira, transferindo o que pastinha relatou em termos viáveis e ensináveis. Relutantemente, a nação começou a reconhecer a capoeira e aceitá-la pelo que era, apesar de acirradamente se negarem a reconhecê-la como esporte nacional – sabendo muito bem que a capoeira não é de maneira alguma um esporte. Hoje, ela foi “lavada” como uma dança cultural, nativa. Desta maneira, a capoeira é, para a hierarquia brasileira, “aceitável”.
Prestígio internacional
Muniz e seu grupo, o Olodum, estão fazendo demonstrações onde quer que consigam encontrar audiência. Seus esforços em festivais folclóricos lhes conseguiram prestígio internacional, apesar da desajeitada ajuda dada pelos canais oficiais do país.
Em 1968, o Olodum representou o Brasil no 3o Festival Folclórico Latino Americano, realizado na Argentina,  e levou o segundo lugar geral após ter vencido três medalhas de ouro e uma de prata. Este ano, eles ficaram em primeiro lugar no Festival Latino Americano realizado no Peru. Sua performance foi tão tocante, suportada por instrumentos musicais que são parte de sua aparência “lavada”, que o ministério brasileiro está fazendo homenagem à arte com a inclusão de demonstrações de capoeira na sua agenda oficial de demonstrações.
Mas esta homenagem é ao desenvolvimento do negro nas artes marciais. Apesar de os estudantes de hoje serem membros de todas as raças, assim como acontece de muitos dos estudantes de artes marciais orientais serem brancos, os negros recebem a maior homenagem através de seu desenvolvimento da capoeira.
Nada faz o negro andar mais orgulhoso de si do que seu laço na cultura da arte marcial. Essa herança tornou-se arraigada no folclore da história das aretes marciais. E há uma pitada de oriental em sua constituição.

Quão estranho foi para essa herança surgir no Brasil e aparentemente terminar lá, porque os escravos foram negociados e espalhados por todo o mundo. Muito possivelmente, se tivesse havido instrutores da arte marcial nos Estados Unidos, a capoeira poderia ter mudado a face da história na América do Norte.

Esse não é um tratado de direitos civis; é um testemunho de uma arte marcial legítima e austera, que se identifica com todas as tradições de outras formas de arte marcial. Assim como os senhores feudais japoeneses oprimiram a população de Okinawa, fazendo com que estes buscassem maneiras efetivas de auto-defesa, assim é com a capoeira, desenvolvida a partir do africano escravo que foi treinado para lutar contra elementos em sua terra natal, mas que voltou o uso do seu treinamento para lutar contra os atormentadores da dignidade humana no Brasil.

Representantes do Brasil, aqueles que desejam olhar com prazer a história de sua nação, gostariam que as demonstrações de dança continuassem a ser tratadas como dança. De fato, a capoeira, por seus aspectos potencialmente perigosos, precisa ser praticada como uma dança, um kata, mas não pode haver um kumite. Os praticantes conhecem a regra e são forçados a aceitá-la, mas eles acreditam sinceramente que a arte poderia ser um esporte dinâmico se as rédeas do governo míope fossem removidas.

Sabidamente, há muitos praticantes da arte que estão trabalhando sem chutes ou socos. Isso tem resultado em alguns efeitos danosos, e mesmo eles reconhecem que o poder da arte precisa ser moldado de alguma maneira em um esporte do qual a nação possa ter orgulho. Assim como Gichin Funakoshi moldou o karate e Jigoro Kano moldou o judo, os líderes da capoeira, talvez Mestre Bimba, estão buscando por uma combinação de esporte e arte.
A ênfase da capoeira é na força muscular, flexibilidade das articulações e movimentos rápidos. Todos esses são calculados para subjugar, e subjugar rapidamente, qualquer ameaça, qualquer batalha.

Movimentos corporais rápidos
A capoeira usa muitos movimentos corporais rápidos, como a maioria das artes marciais. Mas ela põe mais ênfase no poder das pernas, armamento pesado quando usado por lutadores treinados. Um capoeirista pode enfrentar um oponente face a face, mas em uma fração de segundo ele pode descer ao nível do solo, disparando um pé fortemente em uma área de ataque vital. Tem sido dito que o lutador de capoeira, treinado para colocar poder de ataque em seus pés, pode efetivamente destruir um homem com um chute mortalmente bem posicionado.

Que isso aguça o interesse daqueles que a veem, tem sido bastante bem-documentado. Em Los Angeles para comparecer a um festival folclórico, os membros do Olodum foram cercados por estudantes, pedindo para demonstrarem em escolas e universidades locais. Em cada demonstração, havia mais interesse em trazer a arte marcial para os Estados Unidos. Muitas das pessoas fazendo os pedidos eram, para a surpresa de ninguém, da comunidade negra.

Em São Paulo, Brasil, Waldemar dos Santos é o homem responsável por tornar a capoeira popular. Sua é uma missão que já viu a face da determinação turvada pelas barreiras à sua perseverança.
Dos Santos, um homem baixo e forte com mãos e testa marcados por cicatrizes, aprendeu sua capoeira nas ruas. Mas ele é o mais proeminente professor nesta cidade onde os estudos de judo e karate atingiram um novo pico de interesse e prática. Aos 37, o homem está determinado a ver a capoeira se tornar ainda mais importante que essas outras artes marciais. “Essa é brasileira”, ele diz com certeza. “Esta arte de combate está no sangue”.
Tão eminente é Dos Santos sobre a capoeira e seus laços nacionalistas, que mais de 100 estudantes aprendem sob sua tutela. Ele aprendeu a arte marcial nas clareiras de terra batida, que vieram a se toranr “academias” para a capoeira do Rio de Janeiro, Brasil – mas agora que retornou a São Paulo, o jovem está determinado a tornar a capoeira “oficial”.
Ele também, sofreu a opressão das autoridades, tendo nomeado seu “curso” um movimento folclórico brasileiro. Seus estudantes praticam no que era o salão de uma casa, suas paredes agora sujas com palmas e pés sujos. Após seis meses de movimentos de “dança”, que na realidade são o “kata”, Dos Santos instrui seus alunos na fase violenta da arte. “Eu admito”, diz ele, não muito orgulhos da afirmação, “que a capoeira brasileira é um dos estilos formalizados mais sujos que eu conheço”.

Quão “suja” a capoeira tem sido, ou se tornou ? Os livros de história não são claros sobre esse ponto, também. Há muitas lendas cercando a arte marcial e explicando como ela foi usada por marinheiros brasileiros que a aprenderam e “adaptaram” dos escravos. De acordo com algumas fontes que relutantemente admitem isso, os marinheiros usavam a capoeira para matar, afixando facas e navalhas a seus pés e mãos antes de entrar numa luta. Dos Santos dá de ombros ao falar sobre essa faceta. Talvez assim tenha sido como a arte tenha sido feita “bastarda” pelos marinheiros brasileiros, me ele tem confiança nas mãos e pés vazios para ultrapassar esse vício.

Registros policiais recentes
Registros policiais recentes no Rio mostram o que acontece quando a capoeira sai de controle. A polícia militar tentou prender um capoeirista bêbado apelidado Mestre Satã. Satã encarou um pelotão de 24 policiais e os combateu ao empate. Sete policiais foram hospitalizados, dois com braços quebrados e dois com fígados rompidos. Quando Satã ainda estava de pé, desafiante, após uma bateria de 24 cassetetes, a polícia teve que decidir por atirar nele ou deixá-lo desacordado. Decidiram pela última opção.
“Os pés são as armas mais mortais de um homem”, diz Paulo Romero, um praticante de capoeira do Rio. “A cabeça é a parte mais fraca. A capoeira visa trazer a arma mais forte contra o ponto de fraqueza”.
Mestre Bimba definiu o esporte-arte moderno e traçou 72 movimentos distintos que tem nomes vivazes, similares aos dados no tai chi chuan, tais como “tesoura do papai”, “bananeira” e “rabo-de-arraia”.
“Antes da Segunda Guerra Mundial”, Mestre Bimba diz, “a capoeira era ilegal”.

A polícia era chamada onde quer que houvesse a prática. Agora, finalmente, ela está sendo apreciada pela beleza física que realmente é. Velocidade, agilidade e multiplicação da força são a chave.

Mestre Bimba sabe que essa definição está em conflito com a visão dos capoeiristas sobre a arte. “Capoeira é tão graciosa quanto um balé, mas foi criada para matar”, ele admite. “Em uma luta de rua no velho Brasil colonial, capoeira era uma luta até o fim. Uma faca, uma navalha, uma garrafa quebrada, faziam um capoeira valer 20 homens”.
Pastinha, entretanto, foge do desprezo contra a arte. Historicamente, ela pertence ao Brasil e deveria ser reconhecida, em sua opinião. “Como brasileiro”, ele diz, “eu estou orgulhoso desse país amistoso. O capoeira encontrando seu adversário tem a possibilidade por meio da leveza e da rapidez da arte, de desarmar qualquer oponente, ou tomando sua arma ou vencendo-o ao atirar o adversário armado no chão”.

Pastinha ainda é a autoridade primária na arte, e ele tem cuidado de desenvolvê-la até um ponto de respeitabilidade. Mestre Bimba é o mais reconhecido praticante e professor no Brasil, e seus estudadnete são tão entusiastas das técnicas, quanto são estudantes de qualquer lugar. Há alguns infelizes por ela estar presa ao aspecto de demonstração, por mais chamativo que ele seja com seu acompanhamento musical e roupas coloridas, geralmente calças listradas que dão uma aparência berrante e carnavalesca que a maioria. Ao menos a arte está sendo nutrida e algum dia talvez, se ela continuar a viver e ganhar em popularidade, a capoeira pode tornar-se uma arte marcial completa e uma paixão nacional.

Nesse momento, uma universidade a aceita como parte de seu currículo, dentro de seu programa folclórico. Movê-la para a educação física pode ser uma realização delicada, mas enquanto esse dia não chega, os seguidores da arte vão continuar a demonstrá-la, permitindo às pessoas se esquecerem que ela é realmente um exemplo do poder negro.

Muitas águas de beber

Dê uma reparada nesse vídeo:

Grandes imagens, grande áudio! Mas o vídeo em si já começa com uma bela pisada no tomate, na minha opinião: a de que a capoeira foi criada pelos índios no Brasil. 
Não há dúvida alguma, para mim, das raízes africanas da capoeira – mas o assunto “origem da capoeira”, como um todo, já me cansou um bocadinho (no meu caso, já estou há 10-15 anos na mesma tecla :-)… 
Não consigo entender qual é o rationale, qual o motivo real de se acreditar que a capoeira tenha origem em  UMA luta, vinda de UM povo. Ela não é uma criatura de carne e osso, que tenha um pai e uma mãe. A capoeira nasceu de um caldeirão de culturas – esmagadoramente, culturas negras, e minoritariamente, culturas brancas e indígenas – mas não acredito que seja possível apontar A ORIGEM VERDADEIRA.

A capoeira não é um construto pronto, mesmo em dias atuais… Ela está em construção constante. O ritual não é igual ao que era 50, 100, 150 anos atrás – e engana-se quem achar que era. O modo de pensar não era igual, o modo de se movimentar não era igual. E perceba que eu mencionei um período de tempo “curto”… Imagine-se então o que eram algumas das lutas que originaram a capoeira, em tempos pré-escravidão – 500, 1000, 1500 anos atrás.

Pensando num argumento mínimo: pela quantidade de etnias negras trazidas e misturadas à força aqui no Brasil, seria humanamente impossível manter qualquer tradição imutável. Toda tradição oral é viva, e muda quando mudam os que a mantém viva. Não há tradição oral estática – todas refletem sinais de seus tempos.

O seu mestre não faz tudo igual ao que o mestre dele fazia, é fisicamente impossível. A termodinâmica garante que a transmissão de energia entre dois pontos sempre acarreta perda: a energia elétrica, ao ir para a lâmpada, não gera apenas luz – também gera calor. A sua energia, ao pedalar uma bicicleta, não gera apenas o movimento – também aquece as correntes, faz barulho, range. Não existem sistemas de energia “fechados”, que uma vez abastecidos, nunca mais precisem de combustível.

É claro que trazer conceitos físicos para dentro do campo da mente humana é sempre perigoso, mas me  arrisco a defender a posição nesse caso. Nenhum ser humano é uma ilha, todos estamos expostos a opiniões diariamente, e algumas dessas opiniões mudam a nossa cabeça. Não é que fulano despreza o que o mestre dele ensinou: ele é uma pessoa com gostos e direitos, e no gosto e direito dele, vai ajeitar um pouquinho aquilo que aprendeu – para que goste ainda mais.

Por esse motivo é que os uniformes mudam de uma geração para outra; as baterias mudam de formato; os grupos ficam mais ou menos agressivos; as letras se alteram; os golpes mudam de nome; alguns golpes deixam de ser praticados (Você sabe o que é um bochecho ? E um baú ? E uma pantana ? E se sabe, tem certeza que faz igualzinho ao que se fazia em 1920 ?).

Entendo que a beleza da capoeira está justamente nessa falta de definições – é diferente de artes marciais orientais cuja forma e filosofia estão descritas em pergaminhos com centenas ou milhares de anos de idade. A capoeira é mais nebulosa, mais difusa, dá mais lugar ao praticante pensar e definir ele mesmo a arte. Temos sim luminares, capoeiristas cujo pensamento e ações formaram e formam gerações – Pastinha, Noronha, Cobrinha Verde, Waldemar, Bimba, Canjiquinha, e tantos outros. Mas no meu modo de ver, eles não deixaram regras rígidas: cada um deixou o “seu jeito certo”, e se em algum momento discriminou o jeito do outro, não deveria ser julgado por isso – cada um era produto de seu tempo, e suas palavras faziam sentido naquele contexto.

Nós que chegamos agora, os mais novos, temos o privilégio de poder beber a água de muitas fontes, e desenhar nosso caminho baseando-nos naquilo que nos agradar, do que cada um dos “monstros” deixou.

Embora não esteja ligada diretamente à capoeira, eu gosto muito de uma frase de Lee Jun Fan, também conhecido como Bruce Lee. Tendo fundado um estilo, o jeet kune do, Bruce Lee parece paradoxal ao afirmar que sua arte não tem forma. O jeet kune do, por definição, não tem um jeito certo de se fazer.

“Se as pessoas disserem que o jeet kune do é diferente disso ou daquilo, então deixe o nome jeet kune do ser apagado, pois é isso que ele é, apenas um nome. Não se preocupe com ele.”

Pode soar zen demais, mas é algo que eu percebo, mesmo implicitamente, na capoeira. A expressão física da capoeira importa muito menos, para mim, do que o estado mental. O desejo do capoeirista, ao jogar, me encanta mais que o jogo em si… Perceba que não quero dizer que cabe tudo ou que vale tudo na capoeira, e sim que cabe tudo e vale tudo o que for feito com respeito ao próximo, à sua integridade física e moral.

A capoeira com amor, faz amigos. A capoeira, sem amor, nem capoeira é…

Ainda a capoeira olímpica

Algum tempo atrás, escrevi um pouco sobre o que eu achava da capoeira olímpica. Ontem à noite, chegou até mim, pelo Facebook, o texto abaixo (escrito pelo Mestre Cobra Mansa):
ENCERRAMENTO DAS OLIMPÍADAS: QUE CAPOEIRA É ESSA? 


Assisti ao final das Olimpíadas em Londres. O Brasil, como sempre, apesar de não ter conquistado grandes medalhas, fez bonito. O encerramento em Londres, como de costume, foi cheio de pompas e fogos de artifício. O Brasil, país que vai sediar as próximas Olimpíadas em 2016, fez sua apresentação cultural. O samba foi destaque, com o gari Sorriso apresentando o Brasil de uma forma simples e bonita. Mas fiquei chocado quando, logo no início, depois da batucada, vi uma apresentação das mulatas brasileiras, com perucas e máscaras negras. Uma caricatura grotesca dos anos anos 50 em que era comum brancos com o rosto pintado de negro (os black faces) e até mesmo negros representarem um papel estereotipado, em que pulavam e imitavam macacos e animais para uma plateia branca, que esperava deles exatamente esse tipo de comportamento e estereótipo. Naquela época, em que o negro precisava de um espaço na TV e no teatro, era comum esse tipo de comportamento e até compreensível. Agora que estamos em 2012, depois de tantas lutas do movimento negro no Brasil e no mundo em prol de uma melhor imagem de nós negros, fiquei pasmado em ter que assistir tudo isso de novo!

Apesar do desconforto, continuei assistindo o encerramento quando tive uma decepção ainda maior: a apresentação da capoeira para o mundo! Começou com um grupo de acrobatas mal treinados, com o corpo todo cheio de óleo e um abadá branco, fazendo piruetas. Sem berimbau, sem canto, sem ginga, sem nada! Fiquei refletindo: que capoeira é essa que estamos apresentando para o mundo?! Aquilo mais parecia um circo com acrobacia para envergonhar qualquer atleta de ginástica olímpica. Acredito que os mesmos deveriam estar rindo ou chorando de vergonha. O que vimos foi um grupo de acrobatas mal treinados. Senti falta do nosso berimbau, o grande símbolo da capoeira. Na verdade, senti falta da capoeira! Não tiveram jogos de capoeira, somente acrobacias individuais. Será que a capoeira se tornou isso, uma apresentação acrobática sem ginga e sem berimbau? Foi triste, diante do preço tão alto que pagamos para conseguir chegar até lá. Valeu a pena ou aquilo foi só uma coisa “para inglês ver”? Acredito que para algumas pessoas talvez tenha sido a realização de um sonho se apresentar em uma final de Olimpíadas. Mas aonde está a nossa capoeira, essência, existência e alma? Como seria a capoeira nas Olimpíadas no Brasil? Estamos perdendo a nossa identidade, nossas raízes, tratando a capoeira como um produto rotulado, embalado e coreografado, “para inglês ver”. Nesse caminho, não importa mais sua historia ou trajetória, a capoeira está perdendo a sua alma dentro da trajetória esportiva. Fico apreensivo pelo futuro da capoeira nas Olimpíadas de 2016!
Belas palavras, e também muito propositadas. Mas sinceramente, não vejo o porquê da surpresa… Algum capoeirista ainda tem dúvida sobre qual é a imagem do negro, do Brasil e da capoeira, que a nossa elite tem (e quer vender) ? 
Nada contra quem gosta da capoeira acrobática, mas os que estão por cima (e por conseguinte, a mídia brasileira; e por conseguinte, a maioria da população) simplesmente ignora que a capoeira vá além de saltos. Qual capoeirista nunca foi perguntado “se sabia dar mortal”, ao dizer que joga capoeira ? Isso, amigos, é apenas mais um sinal dos tempos. O que vende mais, aparece mais… Angoleiros, regionais e contemporâneos, rituais e ritmos, tudo vai para a mesma panela do esquecimento: a capoeira que se quer mostrar é a do “fortinho que sabe saltar”. 
Que venham as olimpíadas de 2016. Elas virão, e irão, e alguns vão ganhar seu dinheirinho; outros vão continuar no “gueto”, escondidos, subversivos como a capoeira sempre foi.
Resistência é para quem é de resistência!
Para fechar, um trechinho de “Andrea Doria”, do Renato Russo.

Às vezes parecia que era só improvisar
E o mundo então seria um livro aberto,
Até chegar o dia em que tentamos ter demais,
Vendendo fácil o que não tinha preço.

“O golpe é como a semente, você não vai jogar em qualquer lugar” – Mestre Decanio

Entrevista realizada por Letícia Cardoso de Carvalho e publicada na revista Praticando Capoeira, ano I, n° 8
Quando começou a treinar capoeira?
Em 1963, com Mestre Bimba. Ele me tratava muito bem.
O senhor formou-se na segunda turma de Mestre Bimba?
Não, não havia turma. Bimba ensinava a seqüência, com seis meses ele formava o aluno, mas uma coisa era formar e a outra era a formatura. Quando eu me formei tinha uma pessoa que tinha entrado depois de mim, uma que tinha entrado antes, mas nós fizemos a formatura todos juntos. Bimba aguardava a oportunidade de juntar mais alunos para fazer uma festa só.
Mestre Bimba mudou o método de ensino e o estilo ao longo do tempo?
Muito. A ponto de ter alunos que não conheceram a capoeira de Bimba que eu conheci. Cada aluno fala de Bimba da época que viveu com ele. Bimba gostava de falar em parábola. Mas Bimba mudou muito no decorrer do tempo. A angola também mudou da época de Pastinha para cá; é mentira dizer que não mudou.
O capoeirista joga diferente, dependendo do ambiente, momento histórico que está vivendo, trajetória histórica dele. A palavra de uma pessoa só pode ser compreendida no determinado instante que é dita, olhada e julgada. Depois, ela perde todo o significado. Nada que é humano é definitivo. Nós estamos em processo de transformação permanente… depois que eu encontro determinada pessoa eu não sou mais o mesmo, eu cresci, mesmo que essa pessoa não preste, se eu souber interpretar eu aprendo com ela.
Não tem ninguém que não possa dar nada a ninguém. A verdade é que a humanidade toda é uma unidade. Não adianta querer julgar Bimba pelas minhas palavras ou pelas de Hélio. Eu posso dizer que eu não conheço ninguém que eu possa comparar a Bimba. Para nós todos ele era o pai, o paradigma do pai. O que a gente tem que aprender é a verdadeira lição que a capoeira dá: somos todos irmãos. A coisa mais gostosa é a gente encontrar um ex-companheiro de capoeira. A capoeira une todas as gerações, todos os homens. Ele permite que cada um seja ele próprio, cada um faz a capoeira que é capaz.
O senhor acha que está tendo muita agressividade nas rodas de capoeira hoje em dia?
Não, na grande maioria das rodas eu vejo a camaradagem. Mas eu vejo uma coisa que não é para ser feita na roda, que me preocupa: cada um está jogando capoeira como se não existisse o outro. Estão soltando golpe de torto a direito e sem querer acertam o outro. A primeira regra que a gente aprende é que não se solta um golpe sem ver onde vai pegar. Não se solta um golpe sem primeiro cavar a oportunidade do golpe ser eficiente. É como a semente: você não vai jogar em qualquer lugar do solo. O golpe é como a semente, tem que selecionar o lugar para aplicá-lo; isso é o que chamam de armar o golpe. Hoje ninguém está estudando o jogo, está dando pontapé, cabeçada, salto, como se estivesse sozinho na roda. Não desenvolve a parceira, a audácia, a noção de desequilíbrio e cria sltuações de acidente. Essa é a única coisa que é lamentável para mim.
Outra coisa que me preocupa é que estão acelerando o ritmo da capoeira cada vez mais e consequentemente não há oportunidade de se ver o que se está fazendo na roda. Eles ainda não perceberam que essa angústia, esse ritmo acelerado, nos leva a um estado de consciência diferente da vigília. Nesse ritmo, você faz movimentos com propósito de agressão e às vezes você entra num movimento que pode até matar o outro. O ritmo acelerado fez você perder a consciência, o que poderia ser freado não é mais. Bimba não admitia um golpe na capoeira que não pudesse ser utilizado numa luta. Outra coisa errada que eu vejo é o capoeirista inclinar o corpo para trás para se esquivar do golpe; isso é errado, o certo é você acompanhar o golpe esquivando-se e não jogando o corpo para trás.
Até quando o senhor teve contato com Mestre Bimba?
Até a véspera dele ir para Goiânia.
Como eram os treinos de emboscadas feitos por Mestre Bimba?
O treino de emboscada não pode ser reconhecido como emboscada, pois o intuito não era fazer a emboscada e sim fugir da emboscada. Era dado um trajeto para o capoeirista. e no meio eram colocados obstáculos para não deixá-lo passar e chegar ao final: se o capoeirista fosse detectado nessa área, ele tinha sido pego, aí a brincadeira acabava. O treino de emboscada não era feito para o capoeirista apanhar, e sim para ele aprender a fugir das emboscadas; não era guerrilha e sim fuga. Você tinha que passar pelas armadilhas sem ser pego; se fosse pego não era aprovado; não tinha essa de bater no capoeirista porque ele foi pego. Se o outro pegasse o camarada, acabou, ia comemorar e não bater. Era igual brincadeira de criança, o pega pega, pegou já era, já mostrou a falha. Com o passar do tempo houve uma modificação no conceito do treino de emboscada, onde esse passou a ter caráter de luta: o emboscado passou a bater no emboscador. Nada em capoeira é para bater.
Quais são seus planos na capoeira? 
Continuar vivo e dizendo a verdade.

“Minha imagem é minha cabeça” – Mestre Curió

Publicado originalmente no fanzine Mandinga, em 7 de junho de 1998
Quem é o mestre Curió?
Meu nome é Jaime Martins dos Santos, uma pessoa muito sofrida e vivida no cenário da capoeira nacional.
E o apelido de Curió?
Meu avô também era capoeirista e se chamava Curió, e esse nome surgiu por causa disso, quando eu comecei na capoeira todo mundo falava, “É o mesmo jogo do avô!”. Tentaram uma época me chamar de Dois de Prata, porque eu usava muita prata, mas não pegou.
Como foi que o senhor entrou para o mundo da capoeira?
Eu comecei capoeira com seis anos, e nem gostava muito, mas eu estudava numa escola, e tinha uns amiguinhos maiores do que eu, e eles aproveitavam do meu tamanho e me batiam mesmo. E eu tenho toda minha família de capoeiras, eu senti que estava na hora de aprender, aí cheguei pro meu bisavô e disse: “Eu preciso jogar capoeira”, e ele respondeu: “Muleque, você já quer jogar capoeira, mas você não gostava!” Aí eu expliquei tudo a ele. Na primeira aula ele me espancou o que pôde, mas eu aguentei, e quando voltei para a aula, já mais esperto, os garotos quando vieram me bater esbarraram no meu pé e na minha cabeça.
Qual foi o seu contato com Pastinha ?
Minha relação foi através do finado mestre Besouro de Santo Amaro, meu bisavô, ele me disse que se eu quisesse continuar com a capoeira, tinha que procurar Mestre Pastinha, porque só ele era angoleiro de verdade e de confiança.
Como era o Mestre Pastinha ?
Era uma figura incalculável, sutil, muito educado e que fazia seu trabalho com muita sinceridade e honestidade, mas era rígido, muito rígido, e foi  graças a essa rigidez que ele deixou tantos alunos bons.
Como era a relação entre aluno e mestre ?
Hoje os alunos querem que o mestre corra atrás deles, mas, naquela época, os alunos é que corriam atrás do mestre, porque tinham interesse. Hoje não levam capoeira com sinceridade, senão seria outra coisa!
Qual a importância da capoeira Angola hoje em dia ?
A importância da capoeira Angola naquela época e hoje em dia, para mim, é a mesma coisa, porque eu continuo com essa fidelidade que Deus me inspirou, e me nomeou mestre por Pastinha, meu avô, meu bisavô, e que me fez encarar a capoeira de corpo e alma. E eu a faço com muita sinceridade e responsabilidade como aprendi na Escola Mestre Pastinha, e tudo aquilo que eu achei lá, é o que eu estou transmitindo para os meus verdadeiros alunos, aqueles que querem me acompanhar e que querem a verdadeira capoeira Angola.
Como você vê a evolução da capoeira ?
Eu não vejo evolução, para lhe ser sincero, eu vejo é a perdição. A capoeira é muito rica, ela não precisa de infiltrações de outras artes marciais, porque ela foi a primeira luta no Brasil, e ela já traz sua filosofia. E hoje, o que eu vejo é a descaracterização, estão tirando o brilho, a essência, o patrimônio da capoeira, botam luta-livre, judô, karatê, eu gostaria que as pessoas olhassem com mais sensibilidade. E hoje, como Presidente da Associação Brasileira de Capoeira Angola (ABCA), eu estou brigando em busca da originalidade na capoeira, porque, meu amigo!, angoleiro, na Bahia, atualmente tem muito pouco, porque jogar no chão é uma coisa, descer é outra coisa e jogar Angola é outra coisa. Porque capoeira Angola é somada, multiplicada, dividida e subtraída.
E o futuro…
Eu não vou ficar para semente a vida toda, e a minha preocupação é com meus alunos, eu quero que eles tenham alguma coisa de mim quando eu fechar os olhos, quero fazer o mesmo que Pastinha fez, deixar alguém para levar essa capoeira mais a frente e não deixá-la morrer. Eu quero ensinar muita capoeira e ver se ganho algum também… Não posso mais fazer as coisas de graça, estou chegando numa certa idade, já passei da metade e não quero morrer à míngua, pedindo esmola aos leitos de hospitais públicos, como aconteceu recentemente com mestre Bobó, Waldemar, meu mestre, mestre Bimba também e eu estou preocupado. As pessoas só olham os mestres depois de mortos, eu digo aos meus alunos – se quiserem fazer algo por mim, façam enquanto eu estiver vivo, porque depois de morto não estarei vendo nada. Eu não quero morrer e deixar minha família passando necessidade, com meus à toa como os filhos de Bobó, que era uma pessoa que tinha alunos em tudo que é lugar do mundo, e estes, quando ele estava no hospital, nem ligaram! E aí fica difícil. Eu tenho fé em Deus, nos orixás, Cosme Damião, que eu vou obter sucesso. Minha imagem é minha cabeça, e eu não estou aqui me preocupando com o poder, com cargo, nem com força, estou preocupado com a capoeira.
Religião…
Eu vou em todas religiões, acredito em tudo e desacredito em tudo ao mesmo tempo, mas a que eu tenho mais ligação é a umbanda, porque a capoeira Angola, de certa forma, é umbanda. Eu tenho descendência de africano, de nagô, de índio, então eu estou mais para a magia negra.
Sucesso…
Quando seu sucesso atrapalha alguém eles fazem tudo para lhe derrubar. Às vezes eu digo – não me atrapalhem que eu não sou rico, apenas trabalho para sobreviver, eu não tenho inveja de ninguém, o mesu Deus seu, é o mesmo meu, quando o seu mundo termina o meu começa. Se você não puder me ajudar, não me atrapalhe!
Como o senhor vê esse grande número de academias pelo Brasil, ensinando a capoeira regional ?
Eles às vezes se ferem quando mestre Curió fala, mas eu falo porque tenho êxito, e a capoeira que fazem por aí é puramente de exibição, sem essência. Dizem que é a capoeira Regional de mestre Bimba, mas até a capoeira de Bimba deixou de ser a mesma, a capoeira dele era gostosa, cheia de artimanhas. Nessas academias o que se vê é o cara tomando bomba, fazendo halterofilismo para ficar que nem o Hulk para jogar capoeira, enquanto a capoeira não precisa nada disso, porque não se mede o homem pelo tamanho e pela estatura, e sim pela sua capacidade.