“Raça branca”: uma invenção do século XVII

Transcrição:

Quando olhamos em volta e vemos hoje em nossa política um homem branco rico contando a pessoas brancas da classe trabalhadora que seu problema são as pessoas pretas e marrons, precisamos compreender o pedigree histórico de que isso é simbólico de todo a história da política racial e de classe na América.

A história dos brancos ricos dizendo à classe trabalhadora branca pobre que seu problema são os negros e pardos começou nos anos 1600. Até cerca de 1670 não havia tal coisa como “raça branca”, pelo menos não reconhecida como tal e chamada como tal.

Não é o que pessoas de ascendência européia não existissem. Quando eles estavam na Europa eles eram ingleses, eles eram irlandeses, eles eram escoceses. Fossem o que fossem eles não eram “brancos”. Só nas colônias nos tornamos “brancos” e por uma razão muito específica: porque naqueles primeiros anos do período colonial onde você tinha servos brancos contratados um nível acima dos escravizados e você tinha africanos escravizados e seus descendentes.

Nos primeiros anos das colônias essas pessoas frequentemente viam seus interesses como sendo comuns a todos eles, percebiam que eles estavam sendo f*didos pelos mesmos proprietários de terras – as mesmas elite contra as quais eles fermentaram várias rebeliões como a Rebelião de Bacon na Virgínia e outras.

Como resultado, a elite das colônias percebeu que tinha que descobrir uma maneira de trazer as pessoas de ascendência europeia para o seu lado, então criaram essa mentalidade que dizia que “você é agora um membro da raça branca e está no nosso time. Você está vestindo o nosso uniforme, mesmo que seja o último do banco de reserva e não possa nunca entrar no nosso jogo. Então começaram a colocar os agora chamados “brancos” em “patrulhas de escravos” – sem lhes dar qualquer qualquer terra ou qualquer poder real exceto o poder de controlar pessoas de cor.

É por isso que as pessoas de cor dizem, e estão certas nisso, de que o policiamento moderno remonta ao sistema de patrulhas de escravos e temos que ser claros sobre isso porque essa é a história, certo?

A branquitude foi criada para dividir e conquistar, para criar a noção de que mesmo embora você branco possa não ter muito, pelo menos você não é negro, pelo menos não é indígena, pelo menos você não é mexicano, pelo menos você não é chinês trabalhando nas ferrovias para construir a economia transcontinental. Você pode não ter muito, mas pelo menos você tem, como W. E. de Bois disse, o “salário psicológico da branquitude”.

É um truque que foi usado durante a era da Guerra Civil pelo meu povo no sul, gente rica, latifundiários do sul, para convencer brancos pobres que não possuíam nada de que eles tinham que sair e lutar para preservar a propriedade do homem rico – seres humanos.

Fascinante! Por que você faria isso? Por que eu iria lutar pela sua propriedade? Bem, porque você me disse que se eu não fizer isso, esses escravos vão tomar meu emprego. Não, seu idiota! Eles conseguiram o seu emprego! Se você cobra um dólar por dia para trabalhar, e se um dono de escravos pode fazê-los trabalhar de graça, adivinhe quem fica com o emprego? Não é você, com certeza!

Então na verdade o sistema de escravização apostava contra o interesse de classe de brancos da classe trabalhadora, mas eles conseguiram empurrar a idéia. Aconteceu a mesma coisa no movimento sindical branco. Aquelas pessoas não queriam pretos e pardos em seu sindicato porque isso “reduziria o profissionalismo do ofício”.

Não, seu idiota! Isso iria dobrar o tamanho do seu sindicato e depois quando você entrasse em greve os patrões não poderiam substituir o seu traseiro pelo mesmo povo pardo que você não queria ao lado! E o pior é quando você é substituído por eles, você os culpa – e não à elite!

Veja como isso funciona! É um truque que opera há centenas de anos. Está funcionando em algumas pessoas nesse instante, e é nosso trabalho resistir a isso com cada fibra do nosso ser.

Jamais esquecer!

“Nenhum dia amanhece, para um escravo”, escreveu um negro liberto. “E esse amanhecer também não é buscado. Para o escravo, é sempre noite. Noite para sempre”.
Um nativo do Mississipi, branco, foi ainda mais direto: “Eu preferia estar morto”, disse ele, “a ser um crioulo nessas grandes fazendas”. 
Um escravo chegava ao mundo em uma cabana de um quarto e chão de terra, congelante no inverno e escaldante no verão. Cabanas de escravos geravam pneumonia, tifo, cólera, tétano, tuberculose. As crianças que sobreviviam o suficiente para serem mandadas para os campos aos 12 anos, tinham dentes podres, vermes, disenteria, malária. Menos de 4 em 100 chegavam aos 60 anos. 
O trabalho começava ao nascer do sol, e continuava enquanto houvesse luz. 14 horas, às vezes – a menos que houvesse lua cheia, pois então durava ainda mais. 
No quarteirão dos leilões, os escravos tinham que pular e dançar para mostrar a sua agilidade, e eram despidos para demonstrar quão poucas chicotadas precisavam. 
Os compradores os cutucavam e apertavam, examinavam seus pés, olhos e dentes. “Precisamente”, lembra um ex-escravo, “como um jóquei examina um cavalo”.
Um escravo podia esperar ser vendido ao menos uma vez em sua vida. Às vezes, duas; talvez mais. 
Dado que casamento entre escravos não tinha valor legal, os pastores mudaram os votos de união para “até que a morte ou a distância os separe”.
“Você sabe o que eu faria ? Se visse que ia ser escravo novamente ? Eu conseguiria uma arma e acabaria com tudo de uma vez por todas. Porque você não é nada além de um cão. Nada mais que um cão”.
Alguns escravos recusaram-se a trabalhar. Alguns fugiram. Ainda assim, os negros lutaram para manter suas famílias unidas. Criaram sua própria cultura sob as piores das condições. E ansiaram pela liberdade.

Você pode nocauteá-los!

O meu pai costumava dizer assim: “Você não pode vencer os brancos em nada. Nunca. Mas você pode nocauteá-los. Se você tiver 6 e ele tiver 5, ele vence. Se você é negro, não pode deixar a decisão ir para o juiz. Porque você vai perder. Não importa o quanto você tenha batido no outro [lutador]”. 

Larry Holmes versus Gerry Cooney é o exemplo perfeito da VIDA. Larry Holmes meteu a porrada no Gerry Cooney por 11 assaltos. Ele o nocauteou no 11o assalto, e a luta terminou. O Gerry estava sangrando muito, apanhou a luta inteira. Quando foram olhar as pontuações dos juízes, Larry Holmes estava PERDENDO a luta. Se ele não tivesse nocauteado o outro, teria perdido o título.

E essa é essencialmente a experiência do negro. Você é sempre negro, e sempre vai haver uma reação exagerada, de uma maneira ou de outra. Hahaha. A respeito da sua presença. Seja boa ou má. 

Só por deixarem o Jackie Robinson (primeiro jogador negro de baseball profissional, iniciou a carreira na liga principal em 1947) jogar, não quer dizer que o baseball é igual para todos. Estatisticamente, o baseball não foi igual até os anos 70. E por que eu digo anos 70? Porque, foi quando começamos a ver jogadores negros RUINS.

A verdadeira igualdade, é a possibilidade de ser tão ruim quanto o homem branco. Este é o sonho do Martin Luther King tornado realidade. É poder ser ruim.

Eu vejo as cerimônias do Oscar. Ok, essas são as pessoas que fizeram os filmes bons. Onde estão as pessoas que fizeram os filmes ruins ? Eles são a maior parte da indústria.

Eu quero ser como eles! Não que eu queira ser ruim. Eu quero a licença para ser ruim e ter a chance de voltar a atuar. A licença de aprender.

Como criar filhos racistas?

Passo um: não falar sobre raça. Nunca faça seu filho notar que outras
pessoas tem cor da pele diferente. Seja “cego à cor”.

Passo Dois: Na verdade, é isso. Não há passo dois.

Parabéns! Suas crianças estão bem em sua maneira de acreditar que sua
etnia é melhor do que todos os outros.

Surpreso? Assim, ficaram autores Po Bronson e Ashley Merryman quando começaram a pesquisar a questão das crianças e raça para o seu livro “NurtureShock”. Acontece que muitos dos nossos pressupostos sobre a criação de nossos filhos e a apreciação da diversidade é totalmente errado:

É tentador acreditar que por que a sua geração é tão diversa, as
crianças de hoje cresçam sabendo como conviver com pessoas de todas as raças. Mas vários estudos sugerem que isto é mais fantasia do que
fato.

Como é o Mês da História Negra, eu pensei que seria um bom momento para falar sobre raça, especialmente algumas das coisas surpreendentes que encontrei neste capítulo particular de “NurtureShock”. O que Bronson Merryman e descobriram, através de vários estudos, foi que a maioria dos pais brancos nunca conversam com seus filhos sobre raça.

A atitude (pelo menos aqueles que pensam que o racismo é errado) que
geralmente é porque queremos que os nossos filhos sejam indiferentes à cor, não apontamos a cor da pele. Dizeremos coisas como “todos são
iguais”, mas achamos difícil ser mais específico do que isso. Se nossa
criança aponta alguém que parece diferente, nós os mandamos calar e
lhes dizemos que é rude falar sobre isso. Pensamos que simplesmente
colocar nossos filhos em um ambiente diverso irá ensinar-lhes que a
diversidade é natural e boa.

E o que eles estão aprendendo? Aqui estão alguns fatos deprimentes:

  • Apenas 8% dos americanos brancos, cursando o segundo grau, tem um melhor amigo de outra raça. (Para os negros, é de cerca de 15%.)
  • Quanto mais diversificada uma escola é, menor a probabilidade de que as crianças vão formar amizades inter-raciais.
  • 75% dos pais brancos nunca ou quase nunca falam sobre a raça com seus filhos.
  • As atitudes de uma criança em relação à raça são muito mais difíceis de alterar, após a terceira série, mas um monte de pais esperam até lá (ou mais) antes de achar que é “seguro” para falar com franqueza sobre a raça.

Atualmente estamos muito confortáveis para falar com nossos filhos
sobre os estereótipos de gênero: nós dizemos a nossos filhos que as
mulheres podem ser médicos e advogados. Hei, a Barbie pode ser
engenheira de computação
! O que Bronson e Merryman apontam é que devemos dizer a mesma coisa sobre a raça: médicos podem ser de
qualquer cor de pele. Um (meio-)negro pode ser presidente. Negros
nerds podem ser muito legais
.

Então, em homenagem ao Mês da História Negra, fale com seus filhos
sobre a raça. Precisa de ajuda? O site Parenting recentemente postou 5 dicas para falar sobre racismo com crianças. Eu diria, porém, que “o mais importante” deve ser dizer algo, porque simplesmente “ser um modelo” não tem, aparentemente, o efeito que nós pensamos que ele tem.

Por Jonathan Liu

Fonte: http://www.wired.com/geekdad/2010/02/how-to-raise-racist-kids