Ninho de cobra

Bote de cobra armadeira
No meio da palha da cana
A dentada perigosa
É bote de caninana

Cascavel faz seu barulho
No meio do bambuzal
Colorida no caminho
Lá se vai cobra coral

Lá vem a surucucu
Rastejando mais adiante
Cuidado, amigo meu
A dentada é fulminante

A jiboia se enrosca
Em volta de sua presa
Apertando num abraço
Contra qual não tem defesa

Muçurana caça de noite
Sem veneno ela extermina
Come cobra peçonhenta
Então cuidado com a menina

Cobra-d’água é ligeira
Pega peixe sem errar
A mordida é certeira
Não deixa um escapar

Entre folhas e gravetos
Cobra-cipó se esconde
Quando solta a bocada
Você não sabe de onde

Falsa-coral engana a todos
Nela ninguém pisa em cima
É a cobra mandingueira
Imitando sua prima

Camaradinha…

Olha a cobra, acauã
Ê, cauã!
Olha a cobra, acauã
Ê cauã!

De angola

Na pancada do pandeiro
Na virada da viola
No raspar do reco-reco
Tem balanço de angola
As cantigas vão saindo
A língua nunca se enrola
Vai mansinho ou vai ligeiro
É acalanto de angola
O corpo segue mexendo
Parece feito de mola
Faz o que não imagina
É lambuzo de angola
Mas não se engane caranguejo
Cuidado siri-patola
Camarão bobo a onda leva
Na tarrafa de angola
Tem que ter discernimento
Precisa miolo na cachola
Ou escorrega no dendê
E na rasteira de angola
Enfrentando onda forte
Ou enfrentando marola
Pequeno derruba grande
Na mandinga de angola

A semana

A semana (Domínio público)

Sigunda plantei a cana
Terça manheceu nasceno
Na quarta fiz u engenho
Quinta manheceu mueno
Na sexta fiz a cachaça
Sábado manheci bebeno
Duming’acordei di ressaca
I sigunda recomecemo

Camaradinho

Méxi c’a cuia Mariquinha
Agora chegou mais um!
Méxi c’a cuia Mariquinha
Agora chegou mais um!

Acriditi si quisé

Acriditi si quisé (Teimosia)

Eu vô li dizê u’a coisa
Acriditi si quisé
A viola bem tocada
Assust’até coroné
Faiz chuva caí pá cima
Faiz lião andá di ré
Faiz chuvê lá nu sertão
Faiz morto ficá di pé
Cantadô quando s’achega
Qui assume a função
Canta cum vontade forte
Qui faiz tremê coração
Faiz sangui corrê na veia
Na palma di sua mão
Tocadô qui bate fraco
Faiz o som saí errado
Baqueta é di madêra
Num é macarrão moiado
Num s’iscuta birimbau
Pareci qui tá dublado
Tocadô qui bati forte
Na batida compassada
U batuque sai tinindo
Faiz u povo dá risada
Bota jogadô nu rumo
Faiz a alma sê lavada
I us três bricano junto
Viola, tocadô, cantadô
É qui perpara u chão
Pá recebê jogadô
Qui faiz u seu miserê
Lá no meio da roda, sim sinhô

Camaradinho…

É di bamba, é di bamba, é di bamba ê
Lê-lê, viola é bamba
É di bamba, é di bamba, é di bamba ê
Lê-lê, cantadô é bamba
É di bamba, é di bamba, é di bamba ê
Lê-lê, tocadô é bamba

Já paguei minha promessa

(Rafael Xikarangoma Tendulá)

Já paguei minha promessa
Já cumpri com minha missão
Agora peço licença
Prá vadiar no salão
E no pé-do-berimbau
Vim fazer minha devoção
Canto prá Nossa Senhora
Mãe de Deus, da Conceição
Por isso que digo assim
Que digo dessa maneira
Que os pecados de domingo
Pago na segunda-feira

Humanidade me cansou

Humanidade me cansou, 
Pelos seus julgamentos
Aquele que está fora, quer saber, 
O que rola dentro
E lá vai e voa o nome, 
o “talvez” e “ouvi falar”
E a cacatua veio jurando,
que ouviu gato ladrar
Não me diga o que não vale,
ou aumenta minha vida,
tem fofoca e aviso,
interesse e intriga
O que eu dizia e aonde,
você vem se lembrando,
por favor faz o esforço,
de se perguntar: por que e quando
O poder de uma estória,
rica de interpretar…
O seu julgamento de mim,
Eu não tento mais julgar

Camará

(Instrutor Rouxinol – A.L.D.E.I.A.)

Miquilina morreu ontem

Miquilina morreu ontem
Ontem mesmo se enterrou
Miquilina morreu ontem
Teve gente que chorou
Prá cova de Miquilina
Mando um buquê de flor
Era hora grande
Quando eu cheguei na Bahia
Só prá ver a preta Rosa
Filha de Rosa Maria
Todo mundo viu a Rosa
Só eu mesmo é que não via
Vizinho é meu parente
Viveu bem sem trabalhar
Meu pai trabalhou tanto
Nunca pôde enricar
Não tinha um dia da semana
Que deixasse de rezar

(Mestre Russo)

Disconfie

Disconfie (Teimosia)

Disconfie di quem qué
vir li apontá o dedo
a raiva escond’a’nveja
a’nveja escond’u medo
Disconfie di quem qué
li dizê c’o dele é certo
orgulh’escond’incerteza
seja longe, seja perto
Num queira vim’i dizê
qui o meu jeit’é furado
qui eu só sei andá torto
qui meu cert’é seu errado
Disconfie di quem qué
li impô u qui vesti
li dizê u qui pensá
l’insiná u qui senti
Di gent’assim, amigo meu
U mundo vai s’intupi
São os capitão-du-mato
disfarçado di Zumbi
Camaradinha…
Pisa no chão, pisa maneiro
Si num pode com furmiga, num assanha furmigueiro
Pisa no chão, pisa maneiro
Si num pode com mandinga, num assanha mandingueiro