O mundo que roda e que doido volteia

O mundo que roda e que doido volteia
É pião maluco na palma da mão
Que roda sem fim, lá no ar e no chão
É de noite no céu que se vê lua cheia
Parece que cai, mas no céu não bambeia
Por mais que eu tente, não posso pegar
Estico meu braço, não posso alcançar
Ela paradinha, pregada no vento
Uma roda branca no céu ao relento
Que vi refletida nas ondas do mar

Rasteira de fraco põe forte no chão

Rasteira de fraco põe forte no chão
É isso que a vida nos tem a mostrar
O vento que sopra aqui sopra lá
O forte é que acha que pega de mão
Na boca de calça ou no arrastão
Achando que a força é que vai derrubar
Não sabe do jeito que o corpo dá
E nem o que pode fazer esse nego
Que é fraco e mirrado mas não dá sossego
E lhe bota deitado na beira do mar

Em riba do espinhaço vaqueiro era rei

Em riba do espinhaço vaqueiro era rei
Dentro do cangaço ele era doutor
Do gibão, do punhal, da peixeira, o senhor
Fuzil papo-amarelo, madeira de lei
Acaba com a festa gritando “cheguei”
Ele rasga de faca quem queira tretar
Com o gado que é sua função levar
Pras bandas depois das fazendas do leste
Não perde uma rês, esse cabra da peste
Tocando a boiada prá beira do mar

E vem Samuel, de Deus o Querido

E vem Samuel, de Deus o Querido
Desce da jangada, entra na função
No meio da roda, chamada de mão
Em volta o coro, que canta florido
Um olho no céu, ele faz seu pedido
O outro no cabra na roda a gingar
Pede proteção ao santo prá jogar
Com esse caboclo que está sua frente
Não teme general, soldado ou tenente
Lá na capoeira na beira do mar

Caboclo danado que entra na roda

Caboclo danado que entra na roda
Que pula e que gira, tem parte com o cão
Que faz pirueta no pé e na mão
Com chapéu quebrado e com roupa da moda
Tem gente que gosta e tem quem discorda
Do jeito que o homem chega pra jogar
Do balanço mexido que seu corpo dá
Do riso, da graça, do ar de canalha
Do lenço de seda, do fio da navalha
Lá na capoeira na beira do mar