Pisando cascalho grosso
Vou andando no caminho
Estrada de sol a sol
Eu caço o rumo do ninho
Correndo praia ou ladeira
Mas vejo que a capoeira
Não me deixa ir sozinho
A mão que bate a beriba
Também puxa da navalha
Ando sozinho, sem medo
O meu breve não me falha
Sujeito se diz valentão
Cão que ladra, morde não
É sempre fogo de palha
Category Archives: septilha
Abelha amarela e preta
Abelha amarela e preta
É com certeza angoleira
Traz segredo em sua obra
Fabricando mel e cera
Prá quem bulir, tem ferrão
Se não bulir, não tem não
Zum zum zum na capoeira
Besouro preto brilhante
Angoleiro sei que é
Não tem a cor de Pastinha
Mas tem espinho no pé
Parece fraco e é forte
Não teme a dor nem a morte
E voa prá onde quiser
Esperança verde claro
É boa jogando angola
Parece boba, é esperta
Tem miolo na cachola
Parece lenta, é ligeira
Prá mostrar, basta que queira
E é bamba na viola
Na maresia
Na volta que o mundo dá
A noite pois vira dia
O calor da madrugada
Vira manhã muito fria
Marinheiro acorda calado
Anzol na linha enrolado
Vai pescar na maresia
A minha verdade é minha
A minha verdade é minha
Tu tenha a tua prá lá
Fale tu o que quiser
Mas não queira me provar
Que o que penso é errado
Que vale mais o seu lado
Não venha me enganar
A vida é só uma só
A vida é só uma só
Quem desperdiça, bobo é
Correndo atrás de fumaça
Dando chance a quem não quer
Pois a vida é prato cheio
Quem não se lambuza, faz feio
Lamba o dedo e a colher
Viver assim essa vida
É comer em fina louça
O meu conselho é de graça
Eu ofereço a quem ouça
Quem avisa, amigo é
Cuidado, seu jacaré!
Que parado, vira bolsa
Por pouco, eu era baiano
Por pouco, eu era baiano
Mas sou nascido mineiro
Na casa em que vim ao mundo
Tinha pomar e terreiro
Macaco deu pulo alto
O gato escapou no salto
Galo cantou no terreiro
Ao escolher o meu nome
“Teimosia” foi o cunho
Nasci careca e franzino
Mas tinha força no punho
Cheguei no mundo pelado
Tudo que ganhei foi suado
Nasci a 28 de junho
Conselho meu me pai dava
A todos que se apresentam
Pra cantar nesse terreiro
Conselho meu me pai dava
“O tempo corre ligeiro
Faça na vida o melhor
Não tenha de si, pena ou dó
Não pense em fama, ou dinheiro”
O tempo escoa depressa
Feito água no sifão
Quem tenta segurar água
Só faz molhar é a mão
Violeiro é quem dizia
“Na vida, viola e folia
Amor, dinheiro não”
Agradeço a camaradagem
À vida, que é minha escola
Aos amigos que fiz
Ao jogo do embola-embola
A fuga da lida rotineira
Essa, devo à capoeira
Agradeço ao jogo de angola
Vejo capoeira em tudo
Vejo capoeira em tudo
Que vivo no dia a dia
O peixe nada gingando
No riacho de água fria
A nuvem que negaceia
Jogando no céu, passeia
Gato cantando, é que mia
Capoeira está aí
Pra quem quiser reparar
Sirene gritando avisa
Cavalaria a passar
Cachorro faz desafio
Latindo horas a fio
Convidando pra jogar
Por dentro da mata verde
Vejo ipê fazer lambança
A sua chamada pro céu
Com o galho que balança
Responda com atenção
Se subir, cair no chão
Não vá querendo vingança
Vejo capoeira em tudo
No jeito do galo cantar
Em vovó limpando couve
Na cozinha pro jantar
Cada folha escolhida
É uma escolha que a vida
Na roda nos faz jogar
Ônibus que pego às seis
Capoeira me ensina
Sem espaço prá mexer
Aperto não me amofina
Andando pra todo rumo
Ele balança, eu me aprumo
Cumprindo com minha sina
O fio esticado no poste
É corda de berimbau
O arco não se enverga
Mas o som sai, bem ou mal
O vento é quem tira o som
E é tocador do bom
Que assobia no quintal
Vejo capoeira em tudo
No dia em que nasci
Aqui o meu obrigado
Deixo aos que conheci
Faço a volta do mundo
Olho no olho, no fundo
E deixo a boca sorrir
À minha mãe agradeço
Por ter me posto na Terra
Ao meu pai, muito obrigado
Meu sentimento encerra
Gratidão e liberdade
Meu pai se foi, que saudade !
Eu continuo na guerra
Aos meus irmãos, obrigado
Por brigarem, por sorrirem
Por ensinarem amizade
Por falarem, por mentirem
Por mostrarem que o ninho
Tem mais de um passarinho
Por vocês quatro existirem
Aos amigos, obrigado
Pelas mãos para apertar
Pelas cervejas caídas
Pelos ombros de apoiar
Pelas palavras de apoio
O trigo separa do joio
Respiro amizade no ar
Ao amor, muito obrigado
Pelas horas divididas
Na saúde, na doença
As risadas repartidas
Pelo frescor na noite quente
Na noite fria, ardente
Pelas vindas, pelas idas
Aos mestres que me ensinaram
Não tenho como pagar
Não se paga uma vida
Não se paga o caminhar
Agradeço a essas pessoas
Para mim, mais do que boas
João, Capacete, KK
Vejo capoeira em tudo
Dia, noite, madrugada
Aqui o meu obrigado
Aos que vejo na jornada
Dou na roda uma volta só
Vou calado, que é melhor
E solto no vento a risada