O último dos malandros da velha escola

Entrevista com Nestor Capoeira concedida ao site www.planetcapoeira.com
Tradução: Teimosia
13 de junho de 2002

Na primavera desse ano, Nestor Capoeira visitou Nova York pela primeira vez. Ele veio ministrar um workshop de capoeira de dois dias, e fez uma palestra sobre o que ele julga ser o jogo da capoeira.

Nestor é familiar a muitas pessoas pelo livro “Capoeira – Pequeno Manual do Jogador”, freqüentemente a primeira obra literária sobre capoeira lida. Nestor Capoeira é na verdade autor de quarto livros, dos quais três sobre capoeira e um em formato de romance. Nós descobrimos também que ele recentemente terminou seu PhD, estudando a globalização da capoeira e sua relação com as estruturas nômades de poder. Suas palestras acabaram se tornando discussões iluminadas sobre capoeira.

Nessa entrevista, a primeira parte de uma série de artigos sobre Nestor Capoeira, nós perguntamos a Nestor sobre seu próximo livro, e sobre a globalização do jogo da capoeira. O site Planet Capoeira vai publicar brevemente as transcrições das duas palestras ministradas por ele em sua estadia em Nova York.

Eu passei um bom tempo com Nestor não apenas durante os workshops e palestras, mas também tive a chance de partilhar algumas refeições e umas poucas garrafas de vinho com o estimado mestre. O que eu descobri foi que, ao contrário de muitos dittos “mestres” dos dias atuais, ele aparece como um dos últimos dos malandros de outrora, que abraça o jogo da capoeira não pela técnica brilhante, mas sim com a arte da mandinga. Essa entrevista, conduzida durante uma boa refeição (e não poucas garrafas de vinho) em um bom restaurante italiano em Nova York, traz um pouco das quarto décadas de Nestor na capoeira, e mudou radicalmente o modo como eu penso a respeito do jogo da capoeira. Eu estou honrado em dividir minha experiência com vocês.

PlanetCapoeira: Você pode nos falar um pouco sobre seu novo livro?

Nestor: O Livro “Pequeno Manual do Jogador”, da forma como eu vejo, dá uma visão mais ampla, um plano geral. Para o iniciante ele é muito importante, porquê o livro o situa no contexto geral. Você encontra uma história simplificada, alguma coisa sobre malícia, as “regras” da capoeira, de tal forma que a pessoa compreenda a filosofia por trás disso tudo. Há ainda alguma informação sobre a música, não entrando muito em detalhes mas dizendo algo sobre como os três berimbaus funcionam em conjunto, e vai por aí…

O método básico de aprendizado e o meu modo de ensinar capoeira. É claro, cada professor de capoeira acha que o seu jeito de ensinar é o melhor (risos). Assim é “Pequeno Manual do Jogador”. No segundo livro, “Os fundamentos da malícia”, eu pego algumas partes mais específicas e me aprofundo nelas. Fisicamente, o livro tem 380 páginas ou algo próximo disso. O que eu fiz nele foi entrevistar pessoas que eu admiro muito, como Muniz Sodré. Ele é um baiano que tem um lugar muito importante entre os mais importantes grupos de Candomblé da Bahia, e então ele realmente entende do que fala. Ele estudou com Bimba na década de 50. Mas ele é também um acadêmico, que pratica karate até os dias de hoje e está em muito boa forma. Ele é a cabeça do programa de pós-graduação da Divisão de Comunicação da UFRJ. Ele fala 12 ou 13 idiomas, e têm estudado a mídia por muito tempo.

Então eu perguntei a essas pessoas como ele e como Jair Moura, outro jogador de capoeira que participou do filme com João Grande e João Pequeno na década de 50 e tem alguns livros escritos sobre Bimba e Itapoan… Eu entrevistei esses caras, escrevi um capítulo dedicado a cada um deles, e os questionei: “Sobre o quê vocês querem falar ?”. Um deles, por exemplo, disse que ele queria falar sobre o período entre 1810 e 1830, porquê é muito importante na história da influência cultural africana e da escravidão. Então eu escrevi um capítulo sobre cada um, depois escrevi minhas considerações e pedi a eles que fizessem comentários.

E esses comentários estão no livro também. É um livro que tem a minha contribuição, mas cujo ponto mais forte são os pontos de vistas dessas pessoas, que são especialistas e escolheram falar sobre períodos específicos ou contextos sobre os quais eles têm um conhecimento único. Eu escrevi um pouco mais sobre a malícia, considerações sobre essa parte da capoeira e alguns exercícios relacionados à compreensão da malícia. Eu discuto alguns exercícios que uso no meu treinamento, e que meus filhos usam. Exercícios para quem já tem de 5 a 10 anos de capoeira. Para manter seu jogo afiado. A maioria são floreios para quando se está de cabeça-para-baixo e tesouras, especialmente quando se está no chão e o parceiro de pé tenta tirar vantagem da situação. Ainda, como ir para o chão para atrair o parceiro a atacar, e então tirar vantagem. Esse é meu segundo livro, do qual gosto muito. Dos meus 3 livros sobre capoeira, é o mais completo.

PlanetCapoeira: Você disse que os professores têm sua própria aproximação à capoeira. Seu professor original foi Leopoldina. Como a visão dele afetou seu entendimento do jogo?

Nestor: Eu treinei com Leopoldina apenas por um par de anos e em 1968 eu ingressei no Grupo Senzala. Eu tinha então 22 anos e fiquei de 68 a 1990. Então realmente a maior influência no meu treinamento até 10 ou 12 anos atrás foi o método de ensino usado na Senzala. Esse era uma aproximação que eu construí junto com meus colegas na Senzala, caras da minha idade, e depois pessoas mais novas que deram suas contribuições. O método de Leopoldina era completamente diferente, não era estruturado. Suas aulas eram uma grande diversão. Você desenvolvia muito a criatividade e a improvisação.

Mas o desenvolvimento técnico era mais lento; o que você aprenderia em 3 ou 4 anos, poderia ser feito em 1 ano com a metodologia da Senzala. Mas naqueles 3 ou 4 anos você teria a criatividade e uma grande capacidade de improvisar. Esses métodos que nós criamos, não apenas o que eu chamo de “estilo regional Senzala”, mas também no desenvolvimento da angola, permitem que os estudantes se desenvolvam muito rapidamente, mas após 3 ou 4 anos eles não improvisam mais. No início eles improvisam porque eles erram (risos). Mesmo na angola, eles aprendem de forma metódica – “coloque sua mão dessa forma, sua cabeça dessa forma, esse movimento nós não usamos”, etc.

A angola moderna absorveu, ou foi influenciada pelo que Bimba criou. O que eu tenho tentado fazer desde 1990, quando deixei a Senzala de forma diplomática, é tentar coisas diferentes. Eu não queria usar graduações nem uniformes. Eu não quero ter que “obrigar” os alunos a nada. Não forço obrigações a eles. Eu queria me livrar da idéia de “eu pertenço a esse grupo ou clã”. Queria fazer alguma coisa mais tranqüila, mais relaxada. Mas não estou me referindo ao treinamento.

O treinamento tem que ser forte. Mas as obrigações para com o grupo, essas eu decidi abandonar. Pensei sobre como eu poderia os elementos do ensinamento que Leopoldina usava e que o pessoal da angola usavam durante a década de 60. Eu queria reintroduzir aquele método, mantendo os elementos que eu tive quando aprendi capoeira na rua, como quando aprendi a andar de bicicleta. Não o tipo que você tem em uma aula estruturada, freqüentada 4 vezes por semana… Então eu comecei a pensar que eu tinha que criar exercícios de improvisação, por exemplo, coisas muito simples que pessoas que estão praticando capoeira não fazem por vergonha de serem taxados como bobos. Por exemplo, tente apenas se mover em volta do seu parceiro (parado, de pé) sem soltar golpes, mas sem gingar e outros clichês de “movimentação”.

A mesma coisa no chão. Você anda como um gato, movendo-se em volta da pessoa sem usar negativa, rolê… Coisas simples assim. Isso funcionou muito bem porque você desenvolve um método diferente do que está em voga. Você precisa de 5 ou 10 anos para ter alunos formados por esse método, e então pode ver o resultado do que você fez. E os resultados são meus filhos, Itapuã e Bruno, que em minha opinião não são os melhores jogadores do mundo, é claro, mas são jogadores muito bons. Eles tem essa habilidade com a improvisação. Eles podem ir a rodas de angola, como nós fomos à academia do João Grande recentemente. Jogaram com todo mundo, e têm seu próprio estilo, que não é Angola, mas se adaptam. Porquê seus movimentos são mais livres.

Eu acho que dei um pequeno passo nessa direção, que funcionou. Se meus filhos forem a algum lugar onde as pessoas jogam duro, eles jogam duro também, sem problemas. Não estou dizendo que todo mundo deva fazer isso. Acho que todas as tendências de capoeira existentes, do grupo de capoeira como um clã, da coisa com os angoleiros dizendo que eles são tradicionais, guardando as tradições reais, precisam existir porquê isso mantém as diferentes possibilidades. Para que pessoas com diferentes personalidades possam achar seus próprios espaços, mais próximos aos seus modos de ser. Para mim, eu descobri que depois dos meus 25 anos eu criei o meu próprio espaço particular, da mesma maneira.

PlanetCapoeira: Agora que a capoeira está se tornando um jogo globalizado, o que as outras culturas trazem para a arte? Qual a influência européia? Ou a americana?

Nestor: Isso é uma coisa nova. Há um relacionamento distinto aqui. Todos os diferentes estilos de capoeira foram forjados no mesmo contexto cultural, que a princípio, a Bahia – com a regional e a angola. Então, na década de 60, houve a contribuição de grupos de capoeira do Rio e São Paulo para o cenário. Como a mentalidade é diferente nesses estados, não apenas a forma da arte mudou um pouco, mas a própria arte se tornou mais suja, e as pessoas começaram a dizer “aquele FDP me copiou” !

Todo mundo está jogando quase do mesmo jeito – alguns mais técnicos, outros menos, mas quase do mesmo modo. No estilo regional Senzala, nas acrobacias, na Angola… Mas agora que a capoeira foi para o exterior, eu acredito que os movimentos do jogo e a parte musical não vão ser muito alteradas, mas a contribuição obviamente vai mudar muito. Eu acho, por exemplo, que com os europeus, eu sei o que vai acontecer. Eles valorizam muito a história e cultura – isso vai ser uma coisa importante na capoeira: conhecer a história, a cultura, os livros. Para obter PhD nesses aspectos, por exemplo…

Alguém que esteja na capoeira terá que fazer isso no futuro. O que eu quero dizer é que na década de 60, quando comecei, muitos dos melhores alunos de Bimba não sabiam como tocar o berimbau e os demais instrumentos. Eles não se importavam. É a mesma coisa para muitos dos praticantes de angola naquela época. O berimbau era algo a ser aprendido apenas se você quisesse. Mas no final da década de 70 e dos 90 em diante, para obter uma certa corda ou graduação, você TEM que tocar o berimbau. É agora parte do aprendizado da capoeira saber como tocar os ritmos da angola e da regional.

No futuro, com a cultura européia sendo agregada, você terá que conhecer os livros e a pesquisa sendo feita. As coisas se tornam um pouco mais complicadas (risos). Complicadas não, mais holísticas – uma palavra na moda atualmente… Isso envolve mais coisas do que atualmente. A parte negativa é que esses caras que são acadêmicos, como eu (risos), que têm PhD, vão começar a empurrar as coisas de tal forma que o conhecimento se tornará mais importante que o jogo em si. Como pessoas da angola ou da regional acham que seus estilos são mais importantes que o próprio jogo, quando o jogo é que define a capoeira. Todas essas outras coisas são ilusão – coisas que são construídas sobre o que é realmente importante. Esses são os aspectos positivos e negativos da contribuição européia, a meu ver.

PlanetCapoeira: E os Estados Unidos ? Eu gostaria de saber mais sobre isso…

Nestor: Pelo que tenho visto e ouvido até agora, eu acho que eles vão trazer algo de tecnológico – vídeos, CD-ROMs, livros, tudo comprato pela internet. Isso é algo que tem um lado muito positivo, porquê você vai ser capaz de ouvir, por exemplo, as palavras de João Pequeno, João Grande e Acordeon. Mesmo essa entrevista estará acessível via internet. Isso é uma coisa muito boa. Mas a parte negativa eu acredito que seja a falta de contato pessoa-pessoa. Como você e eu. Nós treinamos juntos, e agora estamos almoçando juntos. Começamos então a não apenas trocar idéias, mas porquê estamos juntos, nós sentimos como a outra pessoa é.

Como a outra pessoa joga o seu jogo da vida, e nós roubamos, se formos espertos, as melhores partes do jogo do outro. Eu acho que isso vai ser um pouco perdido. Quantas pessoas vão ter acesso pessoal a João Grande ? Você tem que ir à sua academia e aprender algo que você não pode aprender através da tecnologia. Você absorve algo, a malícia daquele cara, que foi destilada pelo tempo. Os velhos mestres têm malícia, desenvolvida ao longo de muito tempo, e isso você só pode ver pessoalmente. É a forma como eu vejo. As pessoas sempre dizem “Ah, os bons velhos tempos…” de Bimba, de Pastinha e de outros. Eu acho que se Bimba, Pastinha e todos os mestre antigos, se todos eles pudessem viver agora, eles prefeririam. É claro ! As únicas coisas que nós temos que superar hoje em dia são problemas como solidão e consumismo desenfreado. Há muitas armadilhas na sociedade atual nas quais você pode cair. Mas nos tempos deles, havia armadilhas também. Havia a polícia ! (risos)

PlanetCapoeira: Com o resto do mundo abraçando a capoeira, vão haver mudanças na capoeira no Brasil?

Nestor: Eu acho, como eu disse, que o jogo não será tão afetado. Talvez comecem a surgir músicas em outros idiomas. Eu estou gravando um CD, não de capoeira, mas com instrumentos de capoeira. É cantado em inglês, francês e segue por aí. É chamado “Músicas imorais de amor e danação por um jogador de capoeira decadente” (risos). É um pouco pornográfico às vezes. Como Tom Waits – muito obscuro e depressivo, como “Eu vou colocar um feitiço em você” quando um amante te abandona (risos). Mas de qualquer forma, o que eu acho que vai mudar é a mentalidade e a relação de poder entre grupos e pessoas. Porquê tudo tem relações de poder. Como alguns caras como Michel Foulcault (filósofo francês) dizem, a vida pode ser entendida através das relações de poder.

Eu acho que isso é um pouco restritivo, mas é uma boa aproximação. Na capoeira e no candomblé, algumas pessoas vêem algo de bonito, exótico, primitivo, e acham que as relações de poder são mais simples do que se você estiver numa grande organização multinacional. Ao contrário, algumas vezes é mais complicado, mais poderoso e perigoso porquê na multinacional ou na instituição burocrática há regras, há coisas nas quais você não pode mexer sem se estrepar. Na capoeira, você pode sair e matar alguém e eles dirão “muito bem, ninguém sabe que foi você”, como no submundo, entre as máfias.

Como eu disse outro dia em minha palestra sobre grupos nômades, você quer entender a capoeira ? Assista filmes do Tarantino ou “O poderoso chefão”. Apenas a violência nesses filmes é maior e a arte é menor, mas é o mesmo tipo de coisa – a traição, o não poder confiar. Trata-se de enganar a outra pessoa, que é o ensinamento da capoeira. Então alguém pode pensar que a capoeira é, em padrões ocidentais, uma coisa muito ruim. Não. Eu acho que ela é exatamente muito neutra. Te ensina como ver dentro das coisas. O cidadão comum é muito ingênuo. Eu vivi aqui (nos Estados Unidos) entre 56 e 57. Quando me lembro como adultos relacionados ao poder e governo eram completamente ingênuos…

Mas após o Vietnã, o movimento pelos direitos civis, o americano moderno não é mais tão ingênuo. De qualquer forma, as pessoas que detêm o poder (e não estou falando do governo, mas de pessoas por si mesmas, proprietários, etc), todos conhecem a malícia muito bem. Como manipular as situações, como tirar vantagem. É apenas o indivíduo normal, que não conhece, e acredita e confia cegamente… Há americanos dizendo que se a população soubesse como as salsichas e a política são feitas, eles não dormiriam à noite (risos). É uma frase maravilhosa. É o que a capoeira te dá: a percepção de como as salsichas são feitas (risos). Então com a contribuição da Europa e Estados Unidos, nós saberemos como as salsichas são feitas na Alemanhã e como os hambúrgueres são feitos no McDonalds nos EUA (risos).

Como a América vai transformar a Capoeira

Contra-Mestre Pererê, para o site PlanetCapoeira.com em 30 de janeiro de 2001
Tradução: Teimosia
Eu tenho pensado bastante desde que escrevi meu último artigo para o Planet Capoeira, e descobri a necessidade de explorar aIgumas das questões que eu mesmo levantei da última vez. Tenho estado imerso na comunidade da capoeira por alguns anos, e tive muitas discussões tanto com brasileiros quanto com americanos sobre como a capoeira tem sido oferecida para e aceita pelos americanos. Uma das considerações primárias é que a razão original pela qual existe tanta capoeira fora do Brasil é porquê ela oferece para o instrutor um retorno financeiro que não seria possível em solo brasileiro. Como um capoeirista americano me disse uma vez: “Para os brasileiros, capoeira é igual a dolar e aponta o norte do mapa”. 
Alguns podem se iludir pensando que a capoeira está sendo ensinada por motivos mais altruísticos ou por razões estéticas, e ainda que esses aspectos tenham certo papel, você estaria errado em pensar que essas são as razões pelas quais a capoeira tem sido ensinada na América do Norte por brasileiros. Eu tive o infortúnio de ser o assistente de um instrutor brasileiro que lutou por anos para se estabelecer com a capoeira aqui nos EUA (ele atualmente retornou ao Brasil). Como seu assistente, testemunhei conflitos sérios que surgiram quando outros mestres ou instrutores começaram a se estabelecer no “seu” território e esquemas para conseguir centenas de alunos e construir uma academia enorme. A situação persistiu e persistiu, e eu soube diversas vezes de questões e problemas similares, da boca de outros mestres na região em que vivo. Também recebi muita informação de vários estudantes de outros grupos com os quais estive em contato durante os anos. 
A única vez que eu ouvi essas pessoas (mestres e instrutores brasileiros) falarem sobre arte, tradição e respeito e responsabilidade era quando elas estavam ensinando a seus alunos como se comportarem. Muito mais freqüentes eram as discussões políticas mesquinhas e planos para conseguir mais dinheiro. Eu estou convicto de que muitos mestres e instrutores brasileiros na América do Norte tiveram e têm uma influência positiva e maravilhosa nas vidas de muitas pessoas aqui. Entretanto, quero reafirmar que para acreditar que esta é a razão primária pela qual estes professores estão aqui dividindo sua cultura e arte, em primeiro lugar uma pessoa tem que ser muito ingênua.
Eu acredito piamente que a capoeira de ambos os estilos, tradicional e contemporânea (ou derivações de ambos) está aqui para ficar. Por quê ? Porquê os americanos amam a capoeira. Eles gostam de jogar, e gostam de ver. Você já pode vê-la em filmes, em revistas sobre saúde, em videoclipes, em videogames, em clubes de dança, em performances de rua, em torneios de artes marciais. Você pode encontrar garotos nas praças do centro de Seattle jogando capoeira tanto quanto dançando break, e eu sei que eles nunca tiveram uma aula com um instrutor de capoeira. Eles “pegaram” no ar, da TV, de assistir um amigo ou seus irmãos mais velhos que visitaram São Francisco e que estudaram capoeira cinco anos atrás e ainda sabem alguns movimentos. A maioria desses tipos de capoeira é claramente pouco sofisticada, da perspectiva de um capoeirista “legítimo”. É um intercâmbio de chutes de artes marciais e esquivas derivadas de jogos infantis como “queimada” que, apesar de rudimentar, nunca havia sido feito antes. 
Freqüentemente essas atividades são acompanhadas de música hip-hop num aparelho estéreo. O que está faltando é contexto, e contexto é feito do entusiasmo dos participantes. Eles não sentem a cultura afro-brasileira e a história que os mestres da capoeira prezam e mantêm nem sentem falta da conexão com ela. Um de meus estudantes mais antigos recentemente visitou uma zona rural no México e presenciou um pouco de capoeira. Ele disse que foi uma das coisas mais bizarras que já viu, mas era considerada “capoeira verdadeira” pelos mexicanos que estavam praticando, mesmo que nenhum deles tivesse conhecimento do que era um berimbau e muitas outras coisas consideradas importantes e tradicionais na capoeira. Acredito que isso é um sinal muito claro: se os mestres brasileiros falham em passar tudo de sua arte para seus estudantes estrangeiros e não formam pessoas de nível elevado na capoeira (em uma tentativa de manter o controle sobre a) isso não vai deter esses gringos de forma alguma. Esses não-brasileiros vão simplesmente criar por si mesmos o que não entendem ou não sabem. Vão tomar a capoeira para si, e já é muito tarde para controlar a situação. 
A única coisa que os brasileiros podem fazer agora é colocar a si mesmos em uma posição de “resguardo”, um lugar de apoio e esperançosamente, de influência para o cenário da comunidade norte-americana de capoeira. Se os brasileiros que estão na vanguarda da comunidade norte-americana de capoeira falharem em fazer isso, continuando a trazer jovens instrutores brasileiros (e a adicioná-los ao sistema de associações de capoeira norte-americanas controladas por brasileiros) ao invés de criarem uma nova geração de instrutores a partir dos seus próprios alunos gringos, eles vão efetivamente perder o controle de sua amada arte aqui nos EUA e nos demais lugares. Apesar de que estou certo de que eles vão continuar a prosperar, negócios como de costume. 
Se esses mestres e instrutores brasileiros ficam com raiva da sucessão de eventos que está logo ali no horizonte, eles não têm ninguém a não ser a si mesmos para culpar. Eles deviam ter questionado seus próprios motivos para virem aqui como instrutores profissionais de capoeira, em primeiro lugar. Se você oferece algo a outros e espera manter o controle sobre como eles usam, bem, isso é pura tolice e possivelmente má-fé. A reação que tenho visto freqüentemente de diversos mestres brasileiros (o que de maneira alguma se aplica a todos) quando confrontados com a idéia de não-brasileiros tendo seus próprios grupos e escolas é explodir em explicações sobre falhas individuais e/ou falar em chutar os rabos deles (muito profissional…). Parece haver muito poucos mestres brasileiros com visão e discernimento para no mínimo modificar suas agendas e tratar dessa questão, como é claramente necessário.
Essa ocorrência de quebra do monopólio aconteceu com outras artes aqui na América do Norte. Um bom exemplo é o que aconteceu com o Aikidô. Os mestres japoneses nos EUA agressivamente controlaram o estabelecimento na América do Norte por anos, até que a estrutura do poder “virou de cabeça para baixo” (isso parece ser uma metáfora muito comum nessa arte, o que é compartilhado com a capoeira). Um grupo de aikidokas (praticantes de aikidô) americanos com anos de experiência sentiu que estava sendo negado a eles o acesso às graduações mais altas e então, como é freqüentemente o caso de rebeldes e revolucionários, eles coletivamente se desligaram e começaram a sua própria organização de Aikidô. Em poucos anos, sua organização se tornou tão grande que efetivamente tirou dos japoneses o monopólio do aikidô nos EUA, e através de seus próprios esforços, criou um elo direto com a principal organização de aikidô no Japão. 
As várias organizações japonesas e americanas agora coexistem, e a situação se amenizou bastante. Há histórias similares sobre praticamente todas as artes marciais que entraram nos EUA. Uma vez que você compartilha uma forma de arte com outra cultura em larga escala, é difícil e possivelmente errado esperar manter controle completo sobre como a arte é absorvida pela nova cultura. Novas formas e idéias vão surgir, quer você queira ou não. Eu percebo que isso é considerado blasfêmia, e que muitos dos estudantes mais antigos que são completamente dedicados a seus mestres vão chiar com as minhas palavras, achando que minhas idéias são repreensíveis. Entretanto, esse fato não está em suas mãos também, e eles têm ainda menos a dizer sobre isso do que seus mestres. São todos aqueles estudantes que se sentiram barrados, explorados, abandonados e então pularam fora, ou aqueles que não tiveram contato com instrutores qualificados, é que vão causar a eventual revolução em todos os estilos de capoeira num futuro próximo. Nesse momento exato, essas pessoas facilmente ultrapassam em número os estudantes que treinam com um instrutor nos EUA. 
Eles podem ser muito dedicados ou ser relaxados, mas coletivamente têm muito poder e influência. Há também um interesse crescente vindo dos praticantes de vários outros sistemas de artes marciais para incluir desde um “chute de capoeira” em seus métodos até a inclusão da capoeira como um sub-sistema inteiro em sua arte marcial. Artes marciais nos EUA representam um grande negócio. Uma das minhas linhas de trabalho é como instrutor para a Escola Internacional de Dublês, organização baseada nos EUA. Estou em contato constante com uma gama de instrutores de artes marciais “bem-sucedidos” em todo o país. Muitos desses instrutores tem centenas, se não milhares de estudantes nessas organizações enormes, e mantêm conexões através da indústria de saúde e entretenimento. Como eu sou um dos poucos contatos com a capoeira que eles têm, recebo comentários freqüentes de como a capoeira tem se tornado popular aos seus olhos. 
Tenho sido convidado por organizações de artes marciais e de combate simulado em todo o continente para fazer demonstrações em seus eventos e ministrar workshops como instrutor de capoeira. Como um dublê, me sugerem constantemente que eu envie meu currículo devido às minhas habilidades como capoeirista. A indústria do entretenimento está acordando para o fato de que a capoeira é extremamente rentável, e esse reconhecimento certamente vai causar um impacto extenso e imprevisível na arte. Capoeira é muito atraente, e mesmo em sua forma mais modesta ela fascina o observador. Ela vende. Olha lá!
O Contra-Mestre Pererê (Eric Johnson) é graduado pelo Mestre Nô, e mantém em Seattle uma filial do Grupo de Capoeira Angola Palmares.

Depoimento do Mestre Caiçara – Parte 2 de 6

O depoimento do Mestre Caiçara foi tomado pelo Mestre Matiole, durante o Encontro Nacional de Capoeira de Ouro Preto, promovido em 1987 pelo Mestre Macaco e o Grupo Ginga (de Belo Horizonte).

O símbolo [???] indica um trecho do áudio que não consegui transcrever. Entendimentos e sugestões são bem-vindos.

Mestre Matiole: O senhor tem assim… A gente vê falar assim, né… O Mestre Bimba morreu na miséria. Mestre Pastinha…


Mestre Caiçara: Mas o Bimba morreu na miséria sabe por causa de que ? Do complexo dele. Ele dizia que não ensinava para filho de operário. Só ensinava para filho de bacana.


MM: O senhor tem alguma mágoa contra a capoeira, alguma coisa, ou não ? O senhor tem alguma mágoa da capoeira ?


MC: Não ! Eu adoro a capoeira. Eu sou livre, eu sou livre. Eu sou pai, eu sou mãe, eu sou filho, eu sou adepto da capoeira. Eu sou boxeador. Eu sou lutador de livre. Eu sou lutador de romana, que só ganha quando coloca isso no chão… Mas sou… Adoro é a capoeira. Até hoje, com 64 anos, ainda vadeio e eles não me ganham. E quando eles querem me cansar, eu ganho na experiência. Que roupa de homem não dá em menino. XXX. Hahahaha.


MM: É bonito…


MC: É… [???] Hahahaha. Ali, só fica copiando [???]


MM: É médico, é médico…


MC: Eu sei… Mas não tá certo. Tá certo que ele tá sabendo dizer a palavra…


MM: É colega nosso lá da Ginga…


MC: É ?


MM: Aluno de Macaco…


MC: Tá certo [???] Ele vai botar tudo aquilo, e quando chegar mais depois um para querer [???] ele, ele diz “não, olha aqui ó”. Para mim é um prazer, ou você, que eu vou fazer, você vai fazer uma fotografia, uma entrevista, eu exigir dinheiro ? Não… Dinheiro não vale nada ! O que vale no mundo é Deus, saúde e amigos. Com esse daí, com essa dali, o meu nome cresce e eu vou ganhar até o dobro. Talvez o que eu ganhar [???] de sua mão. Não acha não ?


MM: Acho.


MC: E é plantando que a gente colhe.


MM: Eu tô vendo que o senhor tem uma adoração muito grande por criança.


MC: Tenho.


MM: Quantos filhos o senhor tem ?


MC: Trinta.


MM: Trinta filhos ? Com a mesma mulher ?


MC: Não. Quem come num prato só é tuberculoso.


MM: Hahahaha.


MC: Hahahaha. A minha menor tem 2 anos.


MM: 2 anos ?


MC: É.


MM: O senhor adora criança, né ?


MC: Sou louco com criança. É a única festa que dou em minha casa, todo ano. No mês de outubro, é o caruru dos meninos. 6000 quiabos. É o caruru dos meninos, no dia 25 de outubro. Eu sou louco por eles, ave Maria. Sou louco. Quer brigar comigo ? Maltrate uma criança [???] de mim. Eu tava no restaurante comendo, chegou uns meninos. [???]. Chegou tudo assim na janela, e ficou conversando comigo. Eu disse “Já comeu ?”. Eles disse “Não”. “Olha aqui !” E eles vieram me ver aqui. Sabe disso ? Eu adoro, deixe o mundo quieto. Como Deus fez. Sabe disso ? Se eu venho na cidade, você fica assim, estarrecido comigo. Vê aquela malandragem, aquela garotada, me arrodeia, dizendo “Pai véio, pai véio, pai véio, Caiçara”. Os que não me conhecem, falam assim para o outro: “Papai, foi o meu mestre, mestre Caiçara”. [???]. Com um pouco, na hora de sair, faz: “Oh, Mestre, depois eu vou lá. Aquilo que o senhor me ensinou…” XXX. Parece um adulto. [???]


MM: Mestre, outra coisa… A respeito de racismo, por exemplo. Que a gente vê muito o pessoal falando “ah, o branco tomou a capoeira do negro, tomou o samba”. O que o senhor me fala sobre racismo ?


MC: O Brasil não tem branco, e não tem negro. Tem [???], veja compreensão e desenvolvimento. Eu não me importo de ser motorista. Dirijo um carro somente de uma espécie. O senhor já é motorista, já dirige carro de quatro, cinco espécies. Não é minha culpa. É a inteligência do senhor. É o prazer que Deus lhe deu. É a compreensão, é o esforço do próprio sujeito. Você dirige um, eu trago o meu. Eu não preciso seguir. Eu, não… Não tem nada de… No Brasil, não tem preto. No Brasil, não tem branco. Nós tudo somos caboclo. Somos índio. Nós somos é de índio e caboclo. Africano… Lugar de preto é na África. Hahahaha. Lugar de branco é na Alemanha. Lá que tem branco. [???]. É brasileiro, é autêntico ! É poderoso. Então… Eu não tenho dúvidas.

Depoimento do Mestre Caiçara – Parte 1 de 6

O depoimento do Mestre Caiçara foi tomado pelo Mestre Matiole, durante o Encontro Nacional de Capoeira de Ouro Preto, promovido em 1987 pelo Mestre Macaco e o Grupo Ginga (de Belo Horizonte).

O símbolo [???] indica um trecho do áudio que não consegui transcrever. Entendimentos e sugestões são bem-vindos.

Mestre Matiole: O senhor está com quantos anos ?


Mestre Caiçara: 64 vou fazer em 8 de maio


MM: 64 ?


MC: É…


MM: Eu também sou de maio, 2 de maio


MC: Eu sou de 8 de maio. Meu signo é touro. Meu nome é Antônio da Conceição Morais, o popular Mestre Caiçara. Nasci em 8 de maio de 1924. Sou cachoeirano. Eu fui funcionário municipal há 37 anos. Capoeira aprendi com 14 anos. Vai fazer 50 anos que sou mestre de capoeira, que aprendi a capoeira. Mestre não, porque mestre é quem dá lição.


MM: Com quem o senhor aprendeu ? Com quem o senhor começou ?


MC: Com o finado Aberrê.


MM: Aluno de Pastinha…


MC: É, ainda é… Não ! Aberrê nunca foi aluno de Pastinha. Pastinha nunca foi capoeirista. Era pintor ! Agora, Jorge Amado…


MM: Enalteceu ele


MC: … enalteceu ele, e Mário Cravo. Agora Bimba era mestre de capoeira. Doze Homens era mestre de capoeira. Meu mestre, finado Aberrê, era mestre de capoeira. Vitor H. U. era mestre de capoeira. Geraldo Chapeleiro era mestre de capoeira. Canário Pardo era mestre de capoeira. Finado Besouro era capoeirista. Esse… Samuel Preto era capoeirista. Era mestre. Samuel Branco, Juvenal das Docas, da alfândega, era mestre de capoeira. Finado Noronha era capoeirista. Finado Traíra era capoeirista. Waldemar do Pero Vaz era mestre de capoeira. E de canto, foi quem me aperfeiçoou no canto.


MM: Era o Mestre Waldemar…


MC: Waldemar. É quem hoje em dia fabrica os berimbaus.


MM: Eu estive na Bahia, e estive com ele.


MC: É…


MM: Agora ele está meio assim, perrengue de saúde…


MC: É… Então, os mais… É… Finado [???] com competência e querer [???] Só tem uma força para poder apresentar quem tem uma obra com compreensão da nossa cultura, da capoeira autêntica, histórica do afro-brasileiro. [???] Eu não me importo que você faça dela argumento. Você aprende o original. Respeite. Atitude. Da autenticidade. Que aquilo que nasce com o nome próprio, morre com nome próprio. A capoeira só existe uma só. É angola ! Agora, você apresentar aquilo, aquilo outro, aquilo de qualquer jeito, e dizer que é capoeira… É fundamento ! Isso aí, isso não é só formalidade. A capoeira angola, a que foi criada pelos africanos no Brasil, radicados aqui na Bahia. Que a primeira cidade onde apareceu capoeira foi Santo Amaro da Purificação.


MM: E da época que o senhor viveu… Assim, a época de Mestre Bimba. Quando começou com a Regional, na época o pessoal aceitou bem ou foi contra ?


MC: Não… Ele só ensinava filho de barão. Ele não ensinava a filho de… A filho de operário.


MM: Então o pessoal era…


MC: É, o pessoal [???] É filho de papai e mamãe. A filho de operário ele está aí, não me dizia… O filho dele está aí, pode muito bem confirmar o que eu estou falando.


MM: O Mestre Bimba, era angoleiro…


MC: Ele era angoleiro, mas de acordo com a oportunidade, ele virou o toque de cavalaria. Aí virou o regional, era briga de rua, jogo de tomar, de dar e tomar. Mas ele era angoleiro, era amiguíssimo do meu mestre. Meu mestre era santamarense, descendente de africanos.


MM: E a iniciação do senhor no candomblé, foi desde criança também, ou depois que senhor já estava com uma certa idade ? Quando o senhor começou com o candomblé, foi quando o senhor era criança ainda, ou já depois de uma certa idade ?


MC: Não, de uma certa idade… A capoeira, quando eu era criança, 14 anos. E o candomblé, por o motivo de minha mãe era zeladora e dizia quando morresse entregava o cargo a mim. Então eu fiquei com o cargo. [???] casa de candomblé na Uruguai, fui na Liberdade, de Pernambuco. Fui registrado na Federação de Cultos Afro-brasileiros, na 13 de Maio, em Pernambuco. Mas deixei de tocar candomblé por causa da patifaria. [???] Pelas esculhambações. Pelas falsificação que existe no candomblé. A mais safada, de Umbanda e Quimbanda, esculhambou com cachaça, pederastismo… Que desvalorização. Fugi de tudo isso aí. Foi a base. Hoje em dia, eu fui aqui, de Ouro Preto, até histórias, viveu um povo, com muitos anos eu vim aqui. Como é bonita essa arte, então eu vim hoje, para ver, para saber, para dar uma instrução a vocês. Não como sábio, porque todo verdadeiro [???] mais experiência que tem. Mas dar sempre uma mão, uma oportunidade de um ensinar [???] É porquê vocês, faça uma pesquisa e veja se eu estou certo ou se estou errado.


MM: Mestre, uma outra pergunta… Para que é essa bengala, caracterísitica do senhor ?


MC: É… Essa bengala… É um símbolo do meu mestre. Meu mestre andava com uma bengala. Tome dentro de 36, um tantinho. Quando ele me disse “tome e zele [???]”, ele me entregou uma bengala. Pequenininha. E eu tenho até hoje. É o único mestre que anda com uma bengala.


MM: [???] Eu não perguntei uma coisa que era [???] não ?


MC: Não, mas não tem dúvida não. Só preocupo com a resposta.


MM: É uma coisa característica…


MC: É, justamente… É histórico. Pode procurar para você ver. O único mestre que anda com uma bengala sou eu. Nem a polícia não empata. Eu vou enferrujado com isso. Só ando assim na rua. Ela aqui tá um perigo. [???] Comigo ela sai daqui, ela atrapalha carro. Ela trabalha aqui, ela atrapalha aqui. Mas se [???] É um negócio sério. Entendeu ?


MM: Isso tá mostrando, mestre, que o capoeira pode ter uma arma. Não é como no karatê…


MC: Não… Karatê é capoeira copiada… A arma do capoeirista é as perna e a cabeça.


MM: Mestre, porque na capoeira atual a gente quase não está vendo a cabeçada mais ?


MC: Eles não sabe apresentar. Eles tão fugindo da autenticidade. Mas a capoeira… É uma roupa branca, é uma cultura… Apresentando os golpes, mas não para atacar ou ferir ninguém. Somente é [???], bem formalizado.


MM: Mestre, atualmente o senhor está dando aula, ou…


MC: Estou. Particular. [???] outra academia para mim. Lá em Salvador.