Author Archives: Teimosia
Já paguei minha promessa
(Rafael Xikarangoma Tendulá)
Já paguei minha promessa
Já cumpri com minha missão
Agora peço licença
Prá vadiar no salão
E no pé-do-berimbau
Vim fazer minha devoção
Canto prá Nossa Senhora
Mãe de Deus, da Conceição
Por isso que digo assim
Que digo dessa maneira
Que os pecados de domingo
Pago na segunda-feira
Humanidade me cansou
Humanidade me cansou,
Pelos seus julgamentos
Aquele que está fora, quer saber,
O que rola dentro
E lá vai e voa o nome,
o “talvez” e “ouvi falar”
E a cacatua veio jurando,
que ouviu gato ladrar
Não me diga o que não vale,
ou aumenta minha vida,
tem fofoca e aviso,
interesse e intriga
O que eu dizia e aonde,
você vem se lembrando,
por favor faz o esforço,
de se perguntar: por que e quando
O poder de uma estória,
rica de interpretar…
O seu julgamento de mim,
Eu não tento mais julgar
Camará
(Instrutor Rouxinol – A.L.D.E.I.A.)
O homem foi pra guerra
O homem foi pra guerra
Mas a paz é uma conquista
A lua ilumina a noite
O sol clareia o dia
(Mestre Dinho Nascimento)
“A capoeira me fez doutor”
MESTRE JOÃO PEQUENO
“Tem muita coisa que sei e nunca vi ninguém fazer”
MESTRE ARTHUR EMÍDIO
Casimiro D’Almeida, sangue brasileiro na África
Alguns exemplos:
Papai, mamãe, quando eu vinha de Portugal
Papai, mamãe, quando eu vinha de Portugal
Meu amor é [???]
Eu sou vadio, vou vadiar
Sou vadio, vou vadiar
É de manhã, é de manhã, meu boi está me chamando
É de manhã, meu boi está me chamando
É de manhã, é de manhã, meu boi está me chamando
É de manhã, meu boi está me chamando
Meu boi tem o costume
Chamado que vai andando
As estrelas do céu correm
Eu também quero correr
As estrelas atrás da lua
E eu atrás do bem-querer
Isso sem contar as várias referências ao Senhor do Bomfim, e à burrinha – que ainda sai nas festas populares Brasil afora.
Não conheci Casimiro, nem no particular nem no público, mas o considero muito, devo muito ao conhecimento que ele teve, tinha ou tem. Um bastião de resistência, retrato da vitória da tradição oral de um povo sobre a sanha escravizadora de outro.
Viva Casimiro, e viva a abolição – que se foi apenas no papel em 13 de maio de 1888, pelo menos que seja real nas cabeças em cada dia de cada mês de cada ano!
Liberdade como vírus
Inconto a sulina amansa
ricostado aqui no chão
na sombra dos imbuzêro
vomo entrano in descursão
é o tempo que os pé discança
e isfria os calo das mia mão
vô poiano nessa trança
a vida in descursão
na sombra dos imbuzêro
no canto de amarração
tomo falano da vida
felá vida do pião
incontro a sulina amansa
e isfria os calo na mão
u’a vontade é a qui me dá
tali cuma u’a tentação
dum dia arresolvê
infiá os pé pelas mão
pocá arrôcho pocá cia
jogá a carga no chão
i rinchá nas ventania
quebrada dos chapadão
nunca mais vim num currá
nunca mais vê rancharia
é a ceguêra de dexá
um dia de sê pião
num dançá mais amarrado
pru pescoço cum cordão
de num sê mais impregado
e tomem num sê patrão
u’a vontade é a qui me dá
dum dia arresolvê
jogá a carga no chão
cumo a cigarra e a furmiga
vô levano meu vivê
trabaiano pra barriga
e cantano inté morrê
venceno a má fé e a intriga
do Tinhoso as tentação
cortano foias pra amiga
parano ponta c’as mão
cumo a cigarra e a furmiga
cantano e gaiano o pão
vô cantano inconto posso
apois sonhá num posso não
no tempo qui assenta o almoço
eu soin qui num sô mais pião
u’a vontade aqui me dá
dum dia arresolvê
quebrá a cerca da manga
e dexá carro dexá canga
de trabaiá sem discanço
me alevantá nos carrasco
lá nos derradêro sertão
vazá as ponta afiá os casco
boi turuna e barbatão
é a ceguêra de dexá
um dia de sê pião
de num comprá nem vendê
robá isso tomem não
de num sê mais impregado
e tomem num sê patrão
u’a vontade aqui me dá
dum dia arresolvê
boi turuna e barbatão
toda veiz qui vô cantá
o canto de amarração
me dá um pirtucho na guela
e um nó no coração
mais a canga no pescoço
Deus ponho pru modi Adão
dessa Lei nunca me isqueço
cum suo cume o pão
mermo Jesus cuano moço
na Terra tomem foi pião
e toda veiz que eu fô cantá
pra mim livrá da tentação
pr’essa cocêra cabá
num canto mais amarração
Miquilina morreu ontem
Miquilina morreu ontem
Ontem mesmo se enterrou
Miquilina morreu ontem
Teve gente que chorou
Prá cova de Miquilina
Mando um buquê de flor
Era hora grande
Quando eu cheguei na Bahia
Só prá ver a preta Rosa
Filha de Rosa Maria
Todo mundo viu a Rosa
Só eu mesmo é que não via
Vizinho é meu parente
Viveu bem sem trabalhar
Meu pai trabalhou tanto
Nunca pôde enricar
Não tinha um dia da semana
Que deixasse de rezar
(Mestre Russo)