O Canto

Eu canto para afastar nuvens. Canto para me manter acordado. Canto para aprender mais. Para deixar para trás o mal. Eu canto para não criar teias, para desembaçar a visão. Canto para ter notícias, canto para matar saudades. Eu canto e transmito sorte, canto e envio força. O canto é quente nas noites úmidas, e ecoa nas madrugadas frias. Meu canto é curioso, quer descobrir coisas. Levanta pedras e sacode árvores. Espalha papéis, e os lê em pleno ar. Prende aves no chão, seca pimenteiras, fecha corpos, carrega mandinga. É um canto forte, que sai da goela como se me tocassem tambores no peito – um canto que herdei, que corre no meu sangue negro. É canto vivo, que faz correr a tristeza e revira a mágoa pelo avesso. Canto do violeiro sem viola, de andarilho errante. Canto repentes e espanto inimigos, canto louvações e construo amizades e amores. Andando faço minhas loas, deixo meus marcos. Cantando, me defino e esboço meu mundo. O canto me mantém na trilha, me ensina a jogar. Meu canto me faz, e cantando eu sou.

Teimosia

Jogo o jogo da vida, vivo na roda do mundo

Jogo o jogo da vida, vivo na roda do mundo. Sou discípulo que aprende, e todo dia a vida me dá lição. Aprendo a ler um novo ABC a cada manhã, sinto o sangue correr nas palmas das mãos. Às vezes escorrego, e ouço da vida que “roupa de homem não serve em menino” – aprendo com os tropeços, tento não bulir mais com marimbondo. Mas a curiosidade que mata os gatos é a mesma que nos manda para a frente. Se buraco velho tem cobra dentro, às vezes também tem saco de dinheiro – é questão de saber em qual cumbuca meter a mão. Ando devagar, que sei como me doem os calos. E falo devagar, que me doem os dentes da queixada. Não tenho pressa, deixo o corpo dar o jeito que o corpo sempre dá. Enquanto a vida passa, sigo evitando siris que derrubam gameleira, facas de furar e ondas que viram canoas. Se no fundo do mar tem dinheiro, esse eu deixo às sereias. Continuo apanhando a areia branca do mar, continuo bebendo a água de beber. Volta de mundo, camará.

seu apoio aceito. E eu ate convidei, não tem duvida, já pode-se ver os primeiros passos para tua completa ventura. Estou firme na certeza de que eu penso, por que vejo entre se compreendidos para aninhares a vontade e a esperança de crer. Em 23 de fevereiro de 1941. No Jigibirra fim de Liberdade, lá que nasceu este Centro, porque? Foi Vicente Ferreira Pastinha que deu o nome de “Centro Esportivo de Capoeira Angola”. Fundadores Amorzinho, este era o dono do grupo, os que lhe acompanhavam, Aberre, Antonio de Maré, Daniel Noronha, Onça Preta, Livino Diogo, Olampio, Zeir, Vitor, H. U., Alemão filho de Maré, Domingo, Beraldo Izaque dos Santos, Pinieu, Jose Chibata, Ricardo B. dos Santos.

Histórico da Fundação do Centro Esportivo da Capoeira Angola – Em principio do ano de 1941, o meu ex-aluno Raimundo, mais conhecido pelo automasia de “Aberre” sempre me convidava para eu voltar a praticar a capoeira, para tomar conta de uma como instrutor, ao que eu sempre respondia: Eu já me afastei e não pretendo voltar mais a esse esporte. Aberre então, me convidou para ir apreciá-lo jogar no Jingibirra, com o que eu concordei, em 23 de fevereiro de 1941. Fui a esse local como prometeria a Aberre e com surpresa o Senhor Amorzinho dono daquela capoeira, apertando-me a mão disse-me: Há muito que eu esperava para lhe entregar esta capoeira, para o senhor mestrar. Eu ainda tentei me esquivar desculpando, porem, tomando a palavra o senhor Antonio Maré: disse-me; não há jeito, não Pastinha, é você mesmo quem vai mestrar isto aqui. Como os camaradas deram-me o

Meus caros amigos e os demais; eu vos direi. O capoeirista de hoje é um tipo musculoso, não é um malandro, nem um profissional exclusivo de capoeira, somos bailarinos, um homens que vive a arte da capoeira e como artista sincero, somos do trabalhos de todas profissões; que aninha-se nesta arte de defesa e ataque, queriam aprender, pois a verdade é que um dia o amigo venha ter necessidade. O Pastinha deu ao Centro de capoeira, mestre de campo, mestre de cantos, mestre de bateria, mestre de treinos, arquivista, mestre fiscal, contra-mestre. O amigo é conhecedor desta arte? Ah! Sou um observador. Procure aprender com carinho, e força de vontade, e amanhã é um bom juiz. Vamos adiante: esta minha sueca, o que tenho em meu corpo, é minha arte; ela aninha-se em três capoeiras, passado, presente e futuro.

a vencer, vencer para não ser vencido a minha idéia, é ser perfeito em todo sentido fase, por fase, palavra por palavras; os meus amigos reparam-me e sabem que sou homem e não quero me deixar vencer pela idade, e mantenho em forma.

Meus caros amigos e bons capoeiristas quereis mal a vida e a terra é uma inconsciente inveja, e porque provoca astúcias conquista aos seus camaradas, ou a seu mestres para satisfazer o eu do conquistador, você mesmo se tiver conhecimento, diz com sigo, é verdade porque eu vi; e vi com meus próprio olhos fulano fazer-se prevalecer de um camarada de corpo fraco, mas ele é desperto e consciente, diz: eu sem corpo inteiramente e nada mais. Amigos o corpo é um grande sistema de razão,por destras de nossos pensamentos acha-se um Senhor poderoso, um sábio desconhecido; corrijo-me as realidades pela inversão natural da ordem lógica transformando o passado em futuro. A capoeira no passado não era como hoje procurando os melhores conhecedores nas linhas em que já venho transando, verifiquei minhas fases, falando em capoeira nunca mais vi jogar com viola, porque? Há tocadores, mais, perdeu o amor a este esporte mudaram a idéia, e eu não perco minhas idéias, vou firme com os que me acompanham

Zé Maria armou um samba

Zé Maria armou um samba
Que igual não vi nenhum
Chamou Pedro Tocador
E Antônio Jerimum
E veio gente de longe
Prá dançar ziriguidum
Mas no meio da madrugada
Passaram a faca num bebum

Ai zum, zum, zum
Acabaram com o samba
E já mataram um

Valente morre cedo

Ai mamãe, lá vem o homem
esse aí ninguém agüenta
diz que é filho do tinhoso
que tem cabelo na venta
e diz que foi batizado
com sal grosso e água benta

Ele diz que é valente
eu digo “não tenho medo”
que meu pai já me dizia
que valente morre cedo

Se você quiser a prova
Cemitério é cá do lado
gente boa tem alguns
de valente tá lotado

Camaradinho…

Tive um sonho, e vi Jesus

Tive um sonho, e vi Jesus
diferente das figuras
tinha o cabelo enrolado
tinha sua pele escura
uma enxada nas mãos
enfrentava a vida dura

E foi então que me lembrei
do que dizia meu avô
que a cor do couro do homem
não vai medir seu valor
pele branca, pele preta
mas a alma não tem cor

Camaradinho…