no rumo, que Pastinha pensava levar a capoeira no seu preciso valor; com o auxilio dos moradores, e todos estiveram ao meu lado animando-me para este desideralum. As primeiras camisas foram feitas no Bigode, em cores preta e amarela. Tendo como primeiro presidente o Senhor Athaydio Caldeira, e o segundo, o senhor Arrelydio Caldeira.

Depois , quando ocorreu o falecimento do Senhor Amorzinho daí em diante ficou o Centro sem finalidade, porque foi abandonado por todos os mestres, hoje são desertores. Gravo em minha memória os destinos que foi servir a Deus; em setembro de 1942 faleceu Aberre, fisco de taiso, jacaré; em fevereiro de 1944 fiz nova tentativa para organizar o Centro, fui procurado por muitas pessoas o que consegui em 23 de março com alunos, e amigos, camaradas no Centro operário da Bahia, também foi abandonado por falta de entendimento. Depois de dois anos e meses. 1949, fui procurado pelo Senhor Ricardo ex-instrutor da luta da guarda civil, para que eu fosse reorganizar o Centro de capoeira que estava sem finalidade. eu sempre pronto quando me procuravam, estava em minha casa, um domingo, quando dois camaradas me convidou para ir ver um terreno na fabrica de sabonete Sicool no Bigode, e lá levantei a capoeira, e no Centro entrou

A roda de capoeira é o lugar de se estar vivo

A roda de capoeira é o lugar de se estar vivo, de sentir o sangue correr na palma da mão. É onde se aprende a ler o ABC da vida, e a julgar caráteres. A roda ensina a acabar com o preconceito, mesmo que seja uma lição sem palavras – nunca se sabe o que o outro vai fazer, não dá para pré-julgar. Na roda, a alma é livre para sair do corpo e vadiar, trocar experiências com as almas dos outros que ali estão – boas ou ruins, são experiências a se aprender. É lugar de transe, de profundo respeito por si mesmo e pelo próximo – e os que ignoram isso, cedo ou tarde pagam o preço. A roda é templo feito de corpos e cantos, portal que se abre com música – é a passagem para um lugar onde as pessoas são mais reais, mais verdadeiras. O capoeira, na roda, dissimula a intenção – mas não dissimula o que ele é. Na roda, todos somos transparentes – fica escrito no nosso couro o que somos, para quem quiser nos ler.

Ando de banda pela vida, torto como a natureza não me fez

Ando de banda pela vida, torto como a natureza não me fez, de lado feito caranguejo que sou. Olho obliquamente, enviesado, mas nunca pelas esquerdas – ando torto por linhas certas, mas tenho destino conhecido. Caranguejo que sou, vez por outra vejo a maré invadir minha praia, destruir o que construí. Mas tão logo ela recua, eu testo a areia com meus pés finos e canelas secas – e começo a caranguejar de novo. Torto, de lado – mas com rumo certo.

A pequena morte

É quando se retesa o arco e se estica o arame; é quando a baqueta corta o ar e faz vibrar a cabaça; é quando se esquenta o couro com a palma da mão, e o suor corre em bicas. É quando o gunga grita e a função se desenrola; é quando no campo de mandinga, dois viram um. É quando a boca canta sozinha e quando o corpo vai sem rumo, cavalo sem cavaleiro que se veja – é justo nesse momento que estou vivo, uno com todos e ao mesmo tempo só. Vivo quando a perna passa e o tronco esquiva, quando os braços negaceiam. Vivo quando a tesoura derruba, quando rasteira de fraco põe forte no chão. E nesse balanço, nesse remelexo, nesse pega-não-pega, vou vendo siri dar em caranguejo, gavião apanhar de bem-te-vi. E quando o samba mexe meus joelhos, também estou vivo – escorregando, caindo, tretando, presepando, levantando, de banda, de lado, entortado, de viés. E aí, sacudido, balançado, tremelicado, pulsado, febril de jogar o jogo, de brincar a brincadeira, descanso. Uma pequena morte, diria – até que a vadiagem me faça viver de novo.

O Canto

Eu canto para afastar nuvens. Canto para me manter acordado. Canto para aprender mais. Para deixar para trás o mal. Eu canto para não criar teias, para desembaçar a visão. Canto para ter notícias, canto para matar saudades. Eu canto e transmito sorte, canto e envio força. O canto é quente nas noites úmidas, e ecoa nas madrugadas frias. Meu canto é curioso, quer descobrir coisas. Levanta pedras e sacode árvores. Espalha papéis, e os lê em pleno ar. Prende aves no chão, seca pimenteiras, fecha corpos, carrega mandinga. É um canto forte, que sai da goela como se me tocassem tambores no peito – um canto que herdei, que corre no meu sangue negro. É canto vivo, que faz correr a tristeza e revira a mágoa pelo avesso. Canto do violeiro sem viola, de andarilho errante. Canto repentes e espanto inimigos, canto louvações e construo amizades e amores. Andando faço minhas loas, deixo meus marcos. Cantando, me defino e esboço meu mundo. O canto me mantém na trilha, me ensina a jogar. Meu canto me faz, e cantando eu sou.

Teimosia

Jogo o jogo da vida, vivo na roda do mundo

Jogo o jogo da vida, vivo na roda do mundo. Sou discípulo que aprende, e todo dia a vida me dá lição. Aprendo a ler um novo ABC a cada manhã, sinto o sangue correr nas palmas das mãos. Às vezes escorrego, e ouço da vida que “roupa de homem não serve em menino” – aprendo com os tropeços, tento não bulir mais com marimbondo. Mas a curiosidade que mata os gatos é a mesma que nos manda para a frente. Se buraco velho tem cobra dentro, às vezes também tem saco de dinheiro – é questão de saber em qual cumbuca meter a mão. Ando devagar, que sei como me doem os calos. E falo devagar, que me doem os dentes da queixada. Não tenho pressa, deixo o corpo dar o jeito que o corpo sempre dá. Enquanto a vida passa, sigo evitando siris que derrubam gameleira, facas de furar e ondas que viram canoas. Se no fundo do mar tem dinheiro, esse eu deixo às sereias. Continuo apanhando a areia branca do mar, continuo bebendo a água de beber. Volta de mundo, camará.

seu apoio aceito. E eu ate convidei, não tem duvida, já pode-se ver os primeiros passos para tua completa ventura. Estou firme na certeza de que eu penso, por que vejo entre se compreendidos para aninhares a vontade e a esperança de crer. Em 23 de fevereiro de 1941. No Jigibirra fim de Liberdade, lá que nasceu este Centro, porque? Foi Vicente Ferreira Pastinha que deu o nome de “Centro Esportivo de Capoeira Angola”. Fundadores Amorzinho, este era o dono do grupo, os que lhe acompanhavam, Aberre, Antonio de Maré, Daniel Noronha, Onça Preta, Livino Diogo, Olampio, Zeir, Vitor, H. U., Alemão filho de Maré, Domingo, Beraldo Izaque dos Santos, Pinieu, Jose Chibata, Ricardo B. dos Santos.

Histórico da Fundação do Centro Esportivo da Capoeira Angola – Em principio do ano de 1941, o meu ex-aluno Raimundo, mais conhecido pelo automasia de “Aberre” sempre me convidava para eu voltar a praticar a capoeira, para tomar conta de uma como instrutor, ao que eu sempre respondia: Eu já me afastei e não pretendo voltar mais a esse esporte. Aberre então, me convidou para ir apreciá-lo jogar no Jingibirra, com o que eu concordei, em 23 de fevereiro de 1941. Fui a esse local como prometeria a Aberre e com surpresa o Senhor Amorzinho dono daquela capoeira, apertando-me a mão disse-me: Há muito que eu esperava para lhe entregar esta capoeira, para o senhor mestrar. Eu ainda tentei me esquivar desculpando, porem, tomando a palavra o senhor Antonio Maré: disse-me; não há jeito, não Pastinha, é você mesmo quem vai mestrar isto aqui. Como os camaradas deram-me o

Meus caros amigos e os demais; eu vos direi. O capoeirista de hoje é um tipo musculoso, não é um malandro, nem um profissional exclusivo de capoeira, somos bailarinos, um homens que vive a arte da capoeira e como artista sincero, somos do trabalhos de todas profissões; que aninha-se nesta arte de defesa e ataque, queriam aprender, pois a verdade é que um dia o amigo venha ter necessidade. O Pastinha deu ao Centro de capoeira, mestre de campo, mestre de cantos, mestre de bateria, mestre de treinos, arquivista, mestre fiscal, contra-mestre. O amigo é conhecedor desta arte? Ah! Sou um observador. Procure aprender com carinho, e força de vontade, e amanhã é um bom juiz. Vamos adiante: esta minha sueca, o que tenho em meu corpo, é minha arte; ela aninha-se em três capoeiras, passado, presente e futuro.