Maré, braço de mar

Antônio Laurindo das Neves começou a jogar capoeira em 1918. Segundo palavras dele mesmo, “aprendeu a tocar e a jogar observando os outros” (ouça a entrevista aqui http://www.youtube.com/watch?v=_EQbRlEzAOk ).
Antônio Laurindo das Neves cresceu para se tornar o Mestre Totonho de Maré, celebrado até os nossos dias como um dos grandes da capoeira. Quem nunca ouviu “Eu conheci Canjiquinha, também Mestre Bimba, também seu Maré” ?
Mas e hoje em dia, um capoeirista aprende a jogar só de olhar e ouvir ? Há quem diga “se o Mestre Maré não teve mestre, por que eu preciso ter ?” Não posso freqüentar rodas, observar e aprender ? Não posso comprar DVDs e CDs de capoeira, e também ser bamba ?
Respondendo a minha própria chamada, resumo a problemática numa palavra: contexto. Maré via e ouvia, mas provavelmente também conversava com os capoeiras, respirava ares cheios de informação e mandinga. Será que freqüentava as docas e as áreas da malandragem, da cafetinagem ? Será que se envolvia em “barulhos” onde precisava se por à prova ? Na entrevista citada acima, ele menciona uma briga com um companheiro, por causa de um revólver.
Eu entendo que Antônio Laurindo das Neves não teve um mestre – teve vários. E o maior deles, a própria vida num ambiente de malandragem (como diz o Mestre Toni Vargas, “se não fosse malandro, nem crescia“). Talvez daí o seu nome: Maré, ilha da Baia de Todos os Santos. Um baiano cercado de capoeira por todos os lados.

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