O samba acabou em choro. Depois do agogô deixar de ressoar, do pandeiro ser posto na parede, da viola ser guardada no saco, do couro do atabaque esfriar, vieram lágrimas. O samba acabou em choro, porque de há muito não havia outra forma de acabar. Há os sambas que acabam em gargalhada, nos quais o suor gruda na camisa e dos quais se sai com um sorriso que cabe um terreiro inteiro. Mas há também os que são sincopados demais, sambas de breque que vão brecando pela vida. Acelera, pára, acelera, pára. Um compasso se perde ali, a melodia azeda um tiquinho acolá. As lágrimas vão se formando nas solas dos pés, e à medida que se samba elas vão enchendo as canelas, coxas, cintura. Inundam o coração e finalmente vazam dos olhos. É um fim que se poderia ver de longe, se o sambista estivesse mais atento. E assim, quando o samba acaba, corre a água. O samba acabou em choro, mas foi um samba doce de se sambar. Escorregando e caindo, teve seu molejo. Deixa saudade no coração do sambador – saudade agridoce. Saudade do ponteado que se fez na viola, mas não daquela corda que se quebrou. Saudade daquele repicado que se fez no pandeiro, mas não do dia em que o pandeiro furou na beirada. O samba acabou em choro, e agora há um mar a se escoar por furinhos que mal cabem a corda mi do cavaco. O samba acabou em choro e agora é hora de limpar a mesa, arrumar as cadeiras, juntar os cacos da moringa. Desce o pano.