A estrada faz-se reta e faz-se curva. Corcoveia para cima, embarriga-se e ameaça jogar o motorista para fora. Vou devagar, vou depressa. Vou chutando pedras pelo caminho, vou correndo, vou deixando nacos de pele no chão quente, vou feliz como pinto no lixo, vou mais triste que cão sem dono. Mas vou, porque estrada é para se ir. A mão é uma só, não há retorno. Mas há desvios, e paradas obrigatórias, e quebra-molas e buracos. Não obstante, vou. Esperando que depois de alguma curva haja o pódio de chegada e o beijo da namorada. Mas ainda que não haja, ainda assim eu vou. Porque a pancada de hoje é a dor de amanhã, o hematoma da semana que vem, a cicatriz do próximo mês, a lembrança do próximo ano, a saudade da próxima década. O jeito é ir, porque não há tempo que volte.