O Canto

Eu canto para afastar nuvens. Canto para me manter acordado. Canto para aprender mais. Para deixar para trás o mal. Eu canto para não criar teias, para desembaçar a visão. Canto para ter notícias, canto para matar saudades. Eu canto e transmito sorte, canto e envio força. O canto é quente nas noites úmidas, e ecoa nas madrugadas frias. Meu canto é curioso, quer descobrir coisas. Levanta pedras e sacode árvores. Espalha papéis, e os lê em pleno ar. Prende aves no chão, seca pimenteiras, fecha corpos, carrega mandinga. É um canto forte, que sai da goela como se me tocassem tambores no peito – um canto que herdei, que corre no meu sangue negro. É canto vivo, que faz correr a tristeza e revira a mágoa pelo avesso. Canto do violeiro sem viola, de andarilho errante. Canto repentes e espanto inimigos, canto louvações e construo amizades e amores. Andando faço minhas loas, deixo meus marcos. Cantando, me defino e esboço meu mundo. O canto me mantém na trilha, me ensina a jogar. Meu canto me faz, e cantando eu sou.

Teimosia

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