Extraído/adaptado de um texto de Severino Barbosa, publicado na Revista Capoeira #04
Seu nome era José Antônio do Nascimento, mais conhecido em Recife como Nascimento Grande. Nunca recusou uma luta e nem mesmo perdeu alguma. Era alto, robusto, moreno, bigodes longos, cortês, usava invariavelmente um chapelão desabado, capa de borracha dobrada no braço, pesava aproximadamente 130 quilos e usava sua tão famosa bengala, que conforme ele: “uma bengalada derrubava um homem, duas desacordavam e três matavam”.
Honesto, embora protegido dos chefões e políticos da época, mesmo tendo consciência de sua força, nunca provocava os adversários e jamais tomava a iniciativa das lutas. Preferia ser insultado para depois revidar e esganar o inimigo. Isso o fez famoso e odiado pelos “brabos” de Recife. Alguns diziam que ele tinha o corpo fechado, pois foi atacado por diversas vezes por disparos de arma de fogo a queima roupa e nunca foi ferido. Tudo graças a um amuleto com um “Santo Lenço” que ele carregava.
Segue a descrição de algumas lutas travadas por ele:
- Antonio Padroeiro, ajudado por mais sete homens foi abatido por um tiro de arma de fogo que foi tomada dele por Nascimento Grande. Após levar um tiro, Antonio Padroeiro foi espancado até a morte.
- Pajéu, o maior malfeitor do bairro de São José, atacou Nascimento Grande com uma “peixeira”, mas foi desarmado, recebeu uma surra e foi obrigado a vestir-se de mulher, sob gargalhadas do público.
- Certa vez, Nascimento foi cercado por uma viatura. Subiu então em um telhado e dele pulou sobre a viatura atacando os soldados com bengaladas, obrigando-os a fugir.
- A maior luta de Nascimento Grande foi contra João Sabe Tudo, que era seu mais feroz adversário e um dos valentões mais temidos de Recife. Os dois evitam se encontrar, só que em um Domingo de manhã se esbarraram perto da ponte do Largo da Paz. Não houve tempo pra discussões e a briga começou. João Sabe Tudo de “peixeira” na mão e Nascimento Grande com a bengala. Golpes zuniam no ar, e foi se formando a multidão, com grupos de curiosos que aplaudiam ora um ora outro combatente. A Cada rasteira, negaça os aplausos choviam. E os dois valentões avançavam um contra o outro, ou recuavam estrategicamente, ambos ligeiros e valentes. Mas as horas do dia foram passando e a batalha continuava, cada vez mais violenta, sem vencido sem vencedor. E os dois lutadores, em fugas, avanços e negaças, foram descendo a Rua Imperial. A multidão acompanhando. Atingiram a Praça Sérgio Loreto. Avancaram mais e de repente chegaram a Matriz de São José. Entraram na Igreja, e a multidão barulhenta atrás deles. Foi quando apareceu o Vigário da Matriz, indignado. Gritou para os dois valentões, feridos e extenuados, e os fez parar. Mais ainda, intimou que respeitassem a casa de Deus e exigiu que apertassem as mãos. Os dois inimigos, embora desconcertados, obedeceram. Foi essa a última luta de Nascimento Grande e João Sabe tudo, os maiores valentões do Recife Antigo.
Nascimento Grande morreu velho, aos 90 anos.