Vejo capoeira em tudo
Que vivo no dia a dia
O peixe nada gingando
No riacho de água fria
A nuvem que negaceia
Jogando no céu, passeia
Gato cantando, é que mia
Capoeira está aí
Pra quem quiser reparar
Sirene gritando avisa
Cavalaria a passar
Cachorro faz desafio
Latindo horas a fio
Convidando pra jogar
Por dentro da mata verde
Vejo ipê fazer lambança
A sua chamada pro céu
Com o galho que balança
Responda com atenção
Se subir, cair no chão
Não vá querendo vingança
Vejo capoeira em tudo
No jeito do galo cantar
Em vovó limpando couve
Na cozinha pro jantar
Cada folha escolhida
É uma escolha que a vida
Na roda nos faz jogar
Ônibus que pego às seis
Capoeira me ensina
Sem espaço prá mexer
Aperto não me amofina
Andando pra todo rumo
Ele balança, eu me aprumo
Cumprindo com minha sina
O fio esticado no poste
É corda de berimbau
O arco não se enverga
Mas o som sai, bem ou mal
O vento é quem tira o som
E é tocador do bom
Que assobia no quintal
Vejo capoeira em tudo
No dia em que nasci
Aqui o meu obrigado
Deixo aos que conheci
Faço a volta do mundo
Olho no olho, no fundo
E deixo a boca sorrir
À minha mãe agradeço
Por ter me posto na Terra
Ao meu pai, muito obrigado
Meu sentimento encerra
Gratidão e liberdade
Meu pai se foi, que saudade !
Eu continuo na guerra
Aos meus irmãos, obrigado
Por brigarem, por sorrirem
Por ensinarem amizade
Por falarem, por mentirem
Por mostrarem que o ninho
Tem mais de um passarinho
Por vocês quatro existirem
Aos amigos, obrigado
Pelas mãos para apertar
Pelas cervejas caídas
Pelos ombros de apoiar
Pelas palavras de apoio
O trigo separa do joio
Respiro amizade no ar
Ao amor, muito obrigado
Pelas horas divididas
Na saúde, na doença
As risadas repartidas
Pelo frescor na noite quente
Na noite fria, ardente
Pelas vindas, pelas idas
Aos mestres que me ensinaram
Não tenho como pagar
Não se paga uma vida
Não se paga o caminhar
Agradeço a essas pessoas
Para mim, mais do que boas
João, Capacete, KK
Vejo capoeira em tudo
Dia, noite, madrugada
Aqui o meu obrigado
Aos que vejo na jornada
Dou na roda uma volta só
Vou calado, que é melhor
E solto no vento a risada