O mundo gira, volteia doido. É pião em palma de mão de menino, água redemoinhando na pia, é cachorro atrás do próprio rabo. A roda gira, pneu solto ladeira abaixo – e os camaradas giram com a roda. Os troncos se contorcem, caçando os espaços que sobram. Trocam pés por mãos, fingem ir e não vão, fingem dar mole – e não dão. Os olhos giram nas órbitas – mas onde está o camarada, que vi há pouco, e agora não vejo ? A cabeça gira no pescoço, buscando, radar que é, o lugar do outro. E a rasteira do outro gira rente ao chão, descalçando o pé do um. Um gira no ar, pombo sem asas, voando feito garrafa em briga de boteco. A rasteira de outro já passou, e por dentro se ri. Um, ainda girando no ar, pensa na gameleira que caiu, pensa em ser o mesmo que gato. E pensando assim, gato é. Um aterriza de pé, girando o rabo que não tem, para se equilibrar. Olham-se de bandam, e sorriem admirados com o que fizeram. Não são muito de dizerem que vão, então vão – mais uma volta na roda que gira no mundo que volteia doido. Mas uma volta só, que é o que iaiá manda dar.