Entrevista do Mestre João Grande ao Repórter Abelha (Mestre Poloca – INSTITUTO NZINGA DE CAPOEIRA ANGOLA – INCAB), realizada na quarta-feira, 01 de setembro de 2004, em Ponta de Areia/ ltaparica.
NGOLO E NGUNZO
Expressar em palavras as emoções sentidas nesses últimos quinze dias de agosto, pela passagem majestosa do Mestre João Grande pela cidade de Salvador, pode parecer difícil se a gente escolher demais as palavras, mas se, por outro lado, deixarmos a simplicidade e a sinceridade guiar nossos sentimentos, a tarefa se torna fácil. Ele é simples dentro da sua inocente profundidade e na precisão do seu movimento. Mesmo sendo a celebridade que é, antes porém era um dos nossos mestres que estava ali nos abençoando com o seu Ngunzo (força) e batizando nosso terreiro com sua mandinga.
Tive o privilégio de estar com ele em muitas situações, tanto em lugares públicos como em locais mais restritos e pessoais. Ele chegou aqui na quinta, 12 de agosto e fez contato comigo e Paulinha dizendo que queria visitar o Grupo Nzinga no dia 15, domingo, às 14 horas, aproveitando uma brecha em sua agenda.
No sábado, 14, ele foi na roda do M. René, à tarde. A noite, foi na roda do M. Moraes e também na do M. João Pequeno. Chegou a mil. No domingo, às 14 horas, lá estava ele no Nzinga, pronto para mais uma “rodada” de capoeira. Ele anda feliz e, juntos, rimos muito. Fizemos então, uma pequena roda, intimista. Não houve desfile de vaidades. Foi pura vibração positiva. Ao final, a sensação era que todos estavam ainda mais felizes do que quando chegaram, inclusive o Mestre. De lá seguimos para o Terreiro Tanuri Junsara (Angola), era festa pra “Tempo”. Foi um momento de puro encantamento, pois a festa foi uma das mais bonitas já vistas. Segundo ele, foi um dos momentos inesquecíveis dessa sua viagem.
Na quarta feira, 18 de agosto, era o meu aniversário, mas nós faríamos uma roda de comemoração somente no dia seguinte às 19 horas. Pedi ao Mestre João Grande que me desse de presente de aniversário a sua presença naquela roda. Parecia impossível, pois ele estava a serviço do evento que o havia trazido para Salvador. Mas eu tenho sorte, e no dia lá estava ele, antes mesmo dos outros convidados chegarem. Nova explosão de alegria, afinal era um privilegio tê-lo por duas vezes em nosso espaço. Essa roda foi muito bonita e alegre. Contou também com as presenças ilustres do Mestre Valmir (Fica) e do CM Boca do Rio (Zimba), Cris (Acanne), Marco Aurélio, Janaina, Linda e outros. No final teve até bolo de aniversário.
No dia seguinte, teve uma cerimônia lá na Associação Brasileira de Capoeira Angola (ABCA) quando foi entregue o certificado de Embaixador da Capoeira Angola em Nova Iorque para o Mestre João Grande. O Mestre Gildo ficou emocionado e chorou no ato da entrega do título e também quando mostrou a bengala, a camiseta da CECA e o pano desenhado e pintado pelo saudoso Mestre Pastinha. Fui convidado pelo homenageado para fazer com ele o seu único jogo naquela noite. Uma tremenda honra.
No decorrer da semana que se seguiu, o Mestre foi desfrutar da tranqüilidade de seu belo retiro na Ilha de Itaparica.
Senti nele o desejo de impregnar-se com as coisas da terra, as coisas do cotidiano das pessoas, da religião, do sotaque baiano, das coisas simples da vida, tanto quanto é o canto de um bem-te-vi em seu quintal ou o grito do vendedor de aipim ao passar pela porta da sua casa, anunciando a sua mercadoria, onde pude ir visitá-lo para passear e realizar a entrevista que se segue. Pena não poder colocar o áudio com suas gargalhadas e nem tampouco o motivo delas.
ENTREVISTA
P – Como foi que o Sr. conheceu a capoeira angola? Como foi o seu primeiro olhar para a capoeira?
JG – Foi o corta-capim! Foi o seguinte: passou dois meninos de mais ou menos 19 anos, passou assim na rua e fizeram o corta-capim. Tinha dois senhores na porta de uma venda. Aí Chico falou pra Pedro: Pedro, isso aí é dança de nego nagô. Passa na pessoa ali e a pessoa cai. O senhor que falou ficou e o que ouviu foi embora. Eu fiquei ali escutando toda a conversa deles. Eu sou muito curioso. Eu tinha 10 anos nesse dia. Depois eu perguntei ao que ficou: o que é dança nagô? E ele: não sei, é o pessoal que veio da África, que trabalha no engenho de cana. E saí procurando o que era corta-capim. Andei por aí e trabalhei em fazenda de gado como ajudante de vaqueiro, de lavrador plantando feijão, mangalô, arroz, café, cacau, tudo. Trabalhei como ajudante de tropeiro. Procurei o que era corta-capim e ninguém me informou. Em 1953 eu já tava com 20 anos e vim morar em Salvador, na rua Amparo do Tororó, N°19. Morei ali um ano trabalhando de graxeiro, em casa de família: varrendo casa, lavando prato, fazendo compra na rua, tudo.
P – Que família era essa?
JG – O homem se chamava Edgar e a mulher se chamava Julia
P – Eles eram ricos?
JG – Não, eram pobres, mas o marido trabalhava de mascate. Trabalhei ali um ano. Depois fui trabalhar com um espanhol na Av. Vasco da Gama, num depósito de cachaça. Morei no quartinho dos fundos. Levava cachaça, vinagre. Quando é um dia, passei na ponte que ligava o Tororó ao Garcia, e por ali tinha a Roça do Lobo. Embaixo da mangueira que tinha ali, os peões faziam uma roda de capoeira. Cheguei lá e encontrei João Pequeno, Barbosa, Gordo, Cobrinha Verde, Tiburcinho, Manoel Carregador. E a Roda rolando. Eu via os 3 paus dos berimbaus. Eu perguntei a Barbosa e a João Pequeno:
– O que é isso?
E eles:
– Isso é capoeira!
Na hora que eu tava perguntando um cara fez o coda-capim e aí eu me lembrei de quando tinha 10 anos. Perguntei onde era que se aprendia e João Pequeno disse que me levava lá em Brotas, onde Seu Pastinha dava aulas.
P – O Sr. tinha quantos anos nessa época?
JG – Tinha 20 anos. Lá, João Pequeno falou:
– Seu Pastinha aqui tem um rapaz que tá querendo aprender capoeira.
Ele disse:
– Senta aí. Como é que você se chama?
– Eu me chamo João.
– O que é que você faz?
– Bom, eu pratico esse negócio de bola, pratico o negócio de… .
Seu Pastinha disse:
– Deixa tudo que isso não presta. Siga a capoeira que você vai crescer na capoeira (acertou em cheio!).
Eu pensei:
– Este homem sabe de nada…. (Risos). Eu paguei 20 mirréis na hora e sentei. Aí chegaram os antigos: Traíra, Valdemar, Totonho de Maré, Livino, Daniel. P pessoal todo da velha guarda. Aí Seu Pastinha foi jogar…. Depois que ele jogou é que eu acreditei no jogo dele. Eu pensei:
– Esse velho sabe das coisas.
Ele me disse:
– Venha treinar aqui na terça-feira. Pastinha me treinava, João Pequeno me treinava. Um dia o Mestre quis se mudar para um lugar maior e aí um estivador arranjou um casarão na ladeira do Pelourinho, N°19, onde acontecia todo sábado à noite o Baile da Iara. Nesse baile vinha estivador, “doqueiro”, trabalhador, peão. Treinava na terça, quinta e no domingo era a roda. Aos poucos, os outros capoeiristas mais antigos passaram a freqüentar o casarão.
P – Tudo que o Sr. aprendeu de capoeira foi tomando aula com Seu Pastinha ou o Sr. teve aulas com outro Mestre?
JG – O Mestre Cobrinha Verde me treinava de manhã, na academia dele lá no Chame-chame. Eu ia pra lá dia de domingo de manhã. Praticava a capoeira lá de manhã. Era eu, o finado Gato Preto, Didi, Bom Cabrito, Rege de Santo Amaro…
P – Quer dizer então que o Sr. bebeu na fonte de Cobrinha Verde e do Mestre Pastinha?
JG – Isso. Aí eu ficava com Cobrinha Verde até meio-dia. la pra casa e comia uma farinha. Seguia pro Mestre Pastinha umas 2 horas da tarde. Lá eu comia carne. Traíra também me deu “coisa”. Valdemar me deu, finado Livino me deu e Noronha me deu, todos em palavras.
P – O Sr. também ia lã no Barracão de Mestre Valdemar?
JG – la sempre lá em Valdemar. A coisa pegava fogo. Misericórdia! Só tinha cobra criada ali. Era Evanir, Tatá, Bom Cabelo, Chita Macário, Sete Molas, Zacarias. Todos eram cobras criadíssimas. Quando eu tava com três meses de capoeira e me jogaram fora da roda lá no barracão. Antonio Cabeceiro era perverso como quê. Eu tava jogando com Evanir. O jogo pegando com Evanir e ele aí comprou o jogo sem eu ver, exatamente na hora em que eu dei uma meia lua de costas sem olhar, ele aí me jogou fora da roda, no meio da rua. Nem vi. Me sujei todo e tive que ir embora. No outro domingo fui de novo. Fui ver como é que Evanir jogava. Olhei primeiro e fui jogar com ele de novo. Ele entrou e eu dei uma rasteira nele, ele se saiu e devolveu a rasteira e eu pisei na perna dele que rasgou a calça de cima em baixo. Ele aí ficou maluco de lá pra cá e depois… priii apitaram para parar a roda. Lá tinha apito.
P – E quem é que apitava, era o Mestre Valdemar?
JG – Não, um velho que tinha lá. Ele apitava para parar ou para começar. Aí teve uma roda na Conceição da Praia, dia oito de dezembro. Chegou a turma de Valdemar, tinha uns 10 lá. Eu só andava com Deus e meu Santo. Eu entrei e logo Bom Cabelo comprou. Eu dei uma meia lua nele e ele deu uma meia lua em mim e eu saí e dei a cabeçada nele e ele encaixou de leve o joelho no meu queixo. Fechei o jogo e fui ajeitando, ajeitando e quando ele facilitou toquei a cabeça nele. Aí Evanir comprou o jogo. Já tinha a dívida do barracão e aí nós enrolamos (fazer rolê), pá pá pá.. rolamos cá, rolamos lá… Eu usava sapato esporte, sem cadarço. Mestre Pastinha sempre me dizia que quando entrasse, fechasse a guarda com os dois braços protegendo a barriga e o peito. Então, ele entrou na tesoura. Eu tirei um dos braços da guarda para ajeitar o sapato que lava quase saindo do pé, nesta hora Evanir virou rápido e acertou com o bico de seu pé o meu rosto, numa chapa de frente, um pouco abaixo do olho. Feriu o meu rosto mas o jogo continuou. Mestre Bugalho estava no berimbau com um charuto aceso no canto da boca. Só tocava São Bento Grande acelerado. Joguei pra cá e pra lá, aí tombei e ele caiu pra lá e aí parou o berimbau. Parou a bateria. Aí eu fui botar sal no olho, limpei tudo. Eu e Evanir ficamos de mal durante um ano. Sem se falar. Quando eu ia pro carnaval, às vezes ficava por perto da Cantina da Lua, no meio da rua. Eu fui subindo e me falaram que Natividade, aluno de Pastinha, tava apanhando de Evanir na roda. Eu fui lá. Ele me viu, parou e perguntou: Quem vai jogar? Quem quiser jogar comigo pode vir. Ficou desafiando. Deixei ele recomeçar o jogo e aí eu fui lá e comprei o jogo com ele. Aí foi pau! Ele jogava em baixo, não subia. Fazia tudo em baixo. Jogamos duas horas de relógio, no pau. Aí depois do jogo a gente se cumprimentou e acabou o mal estar e ficamos amigos.
P – Mestre, qual o capoeirista antigo que mais lhe impressionou jogando capoeira? E na atualidade?
JG – Dos antigos, todos eles. E dos mais novos, de 1950 por aí, eu gostava de ver os alunos de Valdemar: Diogo, Chita, Evanir. Tinha Virgílio…
P – O barracão do Mestre Valdemar era freqüentado por grandes capoeiristas. No livro do “capoeirólogo” Frede Abreu — O Barracão do M. Valdemar — é contado que os que iam pra lá armados tinham que deixar as suas armas na entrada do barracão, na mão de pessoas de confiança do Mestre. O Sr. presenciou essa cena também?
JG – Vi muitas vezes isso. Eu ia pra jogar com Chita, Macário, Diogo, esses eram bons! Virgílio também era muito bom. Tinha um Cobrinha lá que… deu um aú e do aú que ele deu panhou João Pequeno na rasteira. É finado. Chamavam ele de Cobrinha. Na academia de Pastinha eu comprei o jogo com ele lá e ele quis fazer isso comigo também e eu joguei ele fora. O pai dele aí comprou o jogo comigo. Ele era filho de Espinho Remoso. Os três juntos: Cobrinha, Espinho Remoso e Diogo tavam lá. Jogamos e ele num me achou e nem eu achei ele. Foi um jogo duro que não teve vencedor.
P – O Sr. nota alguma diferença da capoeira que se jogava antigamente e a capoeira de hoje?
JG – Muita diferença! No jogo, no canto, no ritmo. Hoje em dia quase não se canta ladainha. Às vezes é uma só na abertura da roda e acabou. Na chula existem alguns versos que não devem ser esquecidos: iê volta do mundo, que o mundo deu, que o mundo dá; iê menino é bom; ié é cabeceiro; iê é mandingueiro. A capoeira tá perdendo a raiz por causa dessas coisas. Os pandeiros querem tocar mais alto que o atabaque, sem respeitar a hierarquia dos instrumentos. O ritmo tá muito rápido. Faz o jogo acelerar e perde toda a beleza do jogo. O jogo só é bonito quando você joga em cima do berimbau. Eu jogava muito bonito quando Valdemar tocava o berimbau. A gente ia lá e voltava e o berimbau marcava.
P – Hoje muito poucos Mestres chamam a dupla de capoeiristas no pé do berimbau para fazer alguma observação, dar alguma dica ou coisa assim. O que o Sr. acha disso?
JG – É verdade. Não chamam não. Às vezes um tá pisando na roupa do outro e mesmo assim o berimbau não chama. Qualquer pancadinha no jogo, chama-se no “pé do berimbau”, faz apertar a mão do camarado e sai no jogo de novo, pode até não se dizer nada, mas tem que chamar. Temos que puxar pelo valor da tradição.
P – Como é para o Sr. ensinar Cultura Negra principalmente para os americanos?
JG – Ah! Eu me sinto muito satisfeito. Muito bem. Capoeira é pra todo o mundo. É pra homem, menino e mulher. É pra preto, vermelho, azul e amarelo. Tá no nosso sangue. Tem gente que diz: a capoeira é pra preto… Não. É pra quem quiser aprender. A gente já nasce com a capoeira no corpo: é o branco, é o preto, é o vermelho, é o azul. O filho de Risadinha é louro e de olhos azuis e tudo, 5 anos e já tá jogando capoeira legal. Joga com todo o mundo lá.
P – E os americanos? Eles dão muito valor à capoeira?
JG – Dão muito valor à capoeira. Principalmente as mulheres. Elas se dedicam muito. Os homens treinam também mas não mais que as mulheres. Na Europa, quando tem um encontro assim vai tanta mulher e todas com seus berimbaus.
P – Por que o Sr. não forma Contra-Mestres ou Treinei em seu grupo?
JG – Porque não chegou o tempo ainda…
P – O Sr. lembra de quantas mulheres jogando capoeira antigamente?
JG – Eu vi uma mulher jogar… foi uma sergipana… em 1952, jogou com Joel, aluno do finado Daniel. Era uma mulher baixinha, de calça e jogava legal.
P – Depois da sua experiência de dar aulas na CECA (Centro Esportivo de Capoeira Angola) e no GCAP (Grupo de Capoeira Angola Pelourinho), que outras experiências de ensinar capoeira o Sr. teve aqui na Bahia?
JG – Quando eu saí do GCAP, em 87, depois de ter ficado 3 anos lá, dei aulas nas Docas, numa parceria com o Liceu de Artes e Ofícios no qual ensinava a 70 jovens. Pra isso acontecer contei com a ajuda de Frede Abreu, Mestre ltapoan e César Barbieri.
P – O Sr. ficou pelo menos 5 anos afastado da capoeira. Qual o grau de responsabilidade que teve o GCAP no seu retorno?
JG – Bom, ele deu força pra botar os Mestres velhos pra cá de novo. Aqueles encontros e oficinas com os velhos antigos fizeram crescer a capoeira. Teve um período que o GCAP também me ajudou nas despesas.
P – O Sr. acha mais fácil ou mais difícil ensinar capoeira angola nos Estados Unidos?
JG – Pra mim é a mesma coisa. Tanto faz aqui como lá. Você viu aí no encontro que vim trabalhar? Inscreveram 200 pessoas e quantas pessoas tinham lá? Poucas. E era tudo de graça. Ninguém foi lá. Se fosse lá na Europa certamente encheria.
P – O Sr. é também grande fonte das músicas da capoeira. Tanto é que as principais músicas cantadas nas rodas de angola emanam da sua fonte. O Sr. faz essas músicas? Como é que elas surgem?
JG – Às vezes eu lembro de alguma assim… mas também crio a maioria
P – Nós temos sempre uma preocupação muito grande com o que cantamos. O que o Sr. pode nos falar sobre isso?
JG – Acho que tem que tomar cuidado com fundamento da música, eu não tô falando mal, mas tem Mestre antigo aí que só canta Samba de Roda na roda de capoeira. Tá saindo da tradição. Agora, eu gosto de ver o pandeiro chamar também, repicar para chamar. Eu não gosto que toquem alto o pandeiro. Um verdadeiro angoleiro tem que ser rigoroso no ensino, é melhor pra quem tá aprendendo.
P – Lá em NY o Sr. tem contato com pessoas que atuam dentro de organizações ou instituições que trabalham direta ou indiretamente com questões relacionadas aos afro-americanos?
JG – Tem muitos lá. Eles participam nas aulas, vão lá. Eles me ajudam. Fazem atividade no colégio e me chamam pra ir dar palestra pra eles lá. Lá tem uma turma que me convidou para fazer uma apresentação num show lá e o nosso grupo tinha muito branco. Nós fomos e eles não falaram nada comigo não, mas falaram com outros lá: ah! O Mestre trouxe um bocado de branco pra aqui e tal… Depois me chamaram de novo e eu disse que não podia ir. Dei uma desculpa, para não ter que ouvir alguém me pedir para não levar os brancos do grupo. Teve também a minha participação em um filme há 3 meses atrás, com elenco formado só por negros. É um filme famoso que vai sair por agora. Com um artista muito famoso. Vai sair agora nos cinemas. Foi rodado no Harlem. Fizemos uma roda no meio do frio. Ele queria só que eu cantasse e tocasse berimbau. Alguns alunos meus jogaram.
P – Como aconteceu a sua mudança para NY?
JG – Bom, a nossa ida foi Daniel Dawson que arranjou. Levou eu, Moraes, Cobra Mansa, Nó e Lua de Bobó para o Festival de Arte Negra de Atlanta. Daí eu não voltei mais, já fiquei direto lá.. Isso foi em 1990.
P – O que é que Gato Preto tem a ver com essa história? Foi ele que lhe arranjou os alunos e o espaço?
JG – Foi. Ele tinha um espaço lá no Harlem. Ele dava aula lá. E eu fiquei morando na casa dele. Dava aula dia de domingo.
P – Depois de lã do Harlem, o Sr. foi pra onde? Foi pra Manhattan?
JG – Saí de Gato. Abri um espaço lá na 69 Street em Manhattan. Risadinha já estava me acompanhando. Fui pagando o aluguel devagarzinho e fui crescendo ali. Abri um salão pra dança ao lado do da capoeira. Eu o alugava. Depois me mudei de novo, lá mesmo. Já tem 5 anos que estou nesse endereço e acabei de renovar o contrato por mais 5 anos.
P – Mestre João Grande, muito obrigado pela entrevista!